Arquitetura - Edifício Wilton Paes de Almeida

Edifício Wilton Paes de Almeida 

No mês de janeiro de 2018, estivemos pesquisando na cidade de São Paulo e nos surpreendemos, ao olhar o Edifício Wilton Paes de Almeida a partir da sacada do último andar da Galeria do Rock no Largo do Paissandu e ver os espaços de seus 24 pavimentos "vazios" - ou aparentemente vazios, dentro da maior cidade do Brasil, na qual existem muitas pessoas buscando alternativas para morar e trabalhar, onde o valor do espaço edificado é muito alto.

Lamentavelmente tomamos conhecimento de que este mesmo edifício - o Edifício Wilton Paes de Almeida  desabou em função do colapso de sua estrutura ocasionado por um incêndio no seu interior, na madrugada do primeiro dia de maio de 2018. 
Toda esta área construída na região central de São Paulo não teve a devida atenção, no sentido de resolver situações burocráticas e disponibilizar este espaço para o uso, seja privado ou estatal. Bastava somente disponibilizar e, ou viabilizar, legalmente para o uso - também para isto existem os órgãos públicos. 
Lamentavelmente houve vítimas no acidente, e além disso, também houve a perda de um  monumento pertencente ao Patrimônio Histórico Arquitetônico de São Paulo - o Edifício Wilton Paes de Almeida  - e, a avaria de outro edifício pertencente ao patrimônio histórico arquitetônico - a Igreja Martin Luther - construída no ano de 1908 - localizada ao lado do primeiro.

Igreja Martin Luther

A Igreja Evangélica Luterana de São Paulo, como é denominada também a Igreja Martin Luther, é uma das sedes do sínodo Sudeste da Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil, localizada perto do Largo do Paissandu. O templo foi fundado em 25 de dezembro de 1908, sendo um dos principais pontos de encontro da comunidade alemã na primeira metade do Século XX. 

Inicialmente, era conhecida como Stadtkirche - Igreja da cidade, passando a ser conhecido, posteriormente, como Igreja Matriz e em 1991, como Igreja Martin Luther. 

À esquerda - A Igreja Evangélica Luterana de São Paulo  - Igreja Martin Luther - construída no ano de 1908 - danificada pelo incêndio do Edifício Wilton Paes de Almeida 

O Edifício Wilton Paes de Almeida estava localizado na Rua Antônio Godoy, 23, 27 e 33, e Avenida Rio Branco, 10 no Bairro Santa Efigênia - Centro de São Paulo

Em 2012 - havia perspectiva de recuperação do edifício que já apresentava problemas estruturais - como mostra o vídeo abaixo.

Momentos da tragédia.

Arquitetura - Um pouco desta história...

O Edifício Wilton Paes de Almeida  tinha características do Modernismo (estrutura livre, com aço, vidro e concreto) cujo projeto foi assinado pelo Arquiteto Roger Zmekhol - projeto de 1961. Sua construção aconteceu entre os anos de  1961 e 1968. Foi inaugurado em 1965.

Arquiteto Roger Zmekhol 

O Arquiteto Roger Zmekhol - filho de imigrantes sírios e nascido em Paris em 1928 (partiu no ano de 1976) chegou ao Brasil criança. Foi professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAU USP.

O Edifício Wilton Paes de Almeida fazia parte do patrimônio histórico arquitetônico, Tombado no ano de 1992 -  considerado "bem de interesse histórico, arquitetônico e paisagístico" do Brasil. Pertencia à União desde o ano de 2002. 

O edifício possuía uma arquitetura de vanguarda e arrojada, dentro do cenário brasileiro. Arquitetura com linguagem modernista e uma das primeiras construções com vidro nas fachadas, na cidade de São Paulo. 

Estruturalmente e a partir do aspecto lay out, o edifício também foi pioneiro em possuir todas as funções localizadas na área central, como: os banheiros, circulação vertical, a infraestrutura hidráulica e elétrica, ar condicionando - liberando as fachadas para receber um fechamento de "pele de vidro". Esta prática tomou corpo na arquitetura nacional, somente na década seguinte - década de 1970. Também de maneira pioneira, a fim de minimizar o calor incidente através o sol em seus panos de vidro nas fachadas, a central de máquinas de ar condicionados foi instalada também na  área central do edifício. Seus 24 pavimentos - 11.083 m2 de área foram construídos em um terreno de somente 660m2. 

A revista da FAU USP - Acrópole, número 323, do mês de dezembro de 1965, publicou em suas páginas sobre a obra modernista da década de 1960: 

 "Os halls de circulação geral são tratados com mármore e aço inoxidável e os pisos de Ipê, por onde passam canaletas com fios telefônicos e elétricos, permitindo total flexibilidade na arquitetura interna". 

O edifício  foi construído para ser sede da Cia. Comercial Vidros do Brasil (CVB). De estrutura metálica e lajes em concreto, foi projetado com 24 pavimentos, na região charmosa do Largo do Paissandu - cidade de São Paulo.

Posteriormente, outras empresas e instituições ocuparam o edifício, como a Polícia Federal e o INSS. Em função de dívidas, o Estado brasileiro se apropriou do patrimônio e como já mencionado, desde setembro de 2002, o Wilton Paes de Almeida pertencia à União. Sua dívida era muito grande e nada foi feito para contornar esta situação. Aliás, houve uma tentativa. Foi lançado uma edital para a venda do Wilton Paes de Almeida no dia 11 de fevereiro de 2015. O absurdo valor calculado somava mais de R$ 20 milhões. Atualmente o Edifício Wilton Paes de Almeida estava ocupado irregularmente, e mesmo nestas condições, as pessoas que ali residiam, pagavam alugueis aos responsáveis pela ocupação - situação clandestina duas vezes.

Detalhes do pavimento térreo do Edifício Wilton Paes de Almeida e as características do modernismo - com o equilíbrio entre os cheios e vazios, e balanços - destacando a leveza do conjunto. 

As cidades brasileiras não tem familiaridade com projeto, organização e planejamento de seus espaços, fazendo com que os conflitos e problemas em seus espaços tomem proporções tão grande e de maneira acumulativo que a sua realidade espacial, agonizantemente enferma, torna-se uma situação quase que irreversível e crônica. 
O Edifício Wilton Paes de Almeida é um destes exemplos entre tantos, dentro nas mais variadas escalas e em cidades de todos os tamanhos e tipos - de norte a sul do país. 

Outro exemplo da realidade da cidade de Blumenau - "Esqueleto" do Edifício América -  em uma das extremas do Centro Histórico, junto ao antigo porto fluvial. Chegamos à cidade no ano de 1981 e o Edifício América já se encontrava nesta situação.

Após este trágico acidente em São Paulo - como sempre acontece no país - iniciou o jogo de "empurra empurra"  para que - cada uma das estâncias, que poderia ser responsabilizada pelo descaso, tire sua responsabilidade sobre o triste fato.

Nossos registros do descaso - janeiro de 2018

Parte desta igreja pertencente ao patrimônio histórico foi avariada  - Igreja 
Evangélica Luterana de São Paulo - Igreja Martin Luther - construída em 1908.

Opinião:

"Pois é Angelina, o pior de tudo isso, foi saber que esse edifício (patrimônio público federal) estava praticamente abandonado desde 2003. Fiquei sabendo também que até mármore existia na recepção. É revoltante como os burocratas responsáveis por administrar esse mesmo patrimônio, deixam a situação chegar a esse ponto. Em qualquer nação mais evoluída que a nossa, isso jamais aconteceria, porque um imóvel assim seria devidamente ocupado por outra instituição pública qualquer ou então seria leiloado e vendido. O mesmo raciocínio vale para imóveis particulares inacabados ou abandonados pelas cidades, inclusive aqui em Blumenau." Adair Dolzan

É preciso iniciar  mudanças sobre várias questões e aspectos relacionados aos vários níveis  de espaços que compõem as cidades - no Brasil - as quais estão doentes.

Leituras complementars - Clicar sobre o título: 

1. Cidades - Uma volta em São Paulo - Brasil 
2. Urbanismo
3. A Cidade - Organismo vivo no dia do Meio Ambiente
4. Tragédia Anunciada: Incêndio no Largo do Paissandu - Reflexão da Marcos Boldrin sobre - para arquitetos, urbanistas e engenheiros