sábado, 18 de junho de 2016

Fritz e Hermann - Dois Personagens da História de Santa Catarina - Com atualizações

Igreja Católica do Centro da Colônia Blumenau - Detalhe da Residência do Padre Jacobs - construída com a técnica construtiva enxaimel com fechamento de tijolos maciços aparentes e sótão tipo mansarda - Propriedade urbana, típica "casa do colono" - delimitada com gradil de madeira e um caminho cortando o jardim frontal, geralmente adornado com roseiras e outras flores da época. Ao lado direito, é visível a presença de um pequeno pomar. Este quase sempre fornecia frutas para a produção caseira de geleias ou "Schmier" - Expressão conhecida e usada até os dias atuais.
Muitos “Fritz's” e muitos “Hermann's” fizeram parte da construção da História do Vale do Itajaí – antiga Colônia Blumenau e também de outras colônias fundadas por alemães, no Brasil.
Os dois – Fritz und Hermann - foram amigos na Alemanha. Ambos embarcaram de Hamburg, em tempos distintos, rumo ao Vale do Itajaí. Contemporâneos, vieram para a região com ideais diferentes. Suas histórias se cruzam inúmeras vezes e se separam outras tantas. No avantajar da idade, um escolheu retornar para a terra em que nasceu e terminou seus dias na Alemanha. O outro, retornou de seu “exílio” para a terra que escolheu viver – Blumenau.
Esta pesquisa foi apresentada por nós em uma das palestras do XII CAAL – Encontro das Comunidades de Língua Alemã da América Latina, que aconteceu na cidade gaúcha de Nova Petrópolis, em setembro de 2014.

Para ler sobre o XII CAAL - Clicar sobre:

 Parte 1 - XII CAAL
Parte 2 - XII CAAL
Parte 3 - XII CAAL
Parte 4 - XII CAAL

Hermann Blumenau e Fritz Müller: um pouco de suas trajetórias em terras brasileiras, sua amizade e do legado destes dois alemães representantes da ciência no Brasil da 2 ° metade do século XIX .
Hermann Bruno Otto  Blumenau.
Johann Friedrich Theodor Müller.



















No período em que Hermann e  Fritz nasceram, não existia a Alemanha como nação. A unificação das cidades-estados, consolidando uma nação, aconteceu somente em 1871 – portanto, uma história mais recente que a história da Colônia Blumenau.
Os dois personagens apresentavam idades com somente três anos de diferença – contemporâneos. 
Blumenau nasceu em Hassenfelde – Ducado de Bruswick, em 26 de dezembro de 1819, e Müller nasceu na casa paroquial de Erfurt, em 31 de março de 1822 – era filho de um pastor luterano local.
Uma pequena cidade onde nasceu Blumenau.
Um centro urbano um pouco maior - onde nasceu Müller.

 Alemanha - Primeira metade do Século XIX

Durante o período de nascimento de Hermann e de Fritz, boa parte do território em que hoje está localizada a Alemanha era domínio dos franceses – conquistado pelo exército de Napoleão Bonaparte. Nesse período, o Sacro Império Germânico havia sido abolido. Em seu lugar foi criada a Confederação do Reno, que logo após foi dissolvida pelo Congresso de Viena e constituída em novas bases com o novo nome – Confederação Germânica – em 1815. 
Representantes do Congresso de Viena: Klemens Wenzel Von Metternich (Príncipe da Áustria), Karl August Von Hardenberg (Príncipe da Prússia), o Chanceler Wilhelm Von Humboldt, Charles Maurice de Talleyrand Périgord (França).


Na Prússia – os Junkers (nobres) eram contrários a essa tentativa de unificação da Alemanha a partir da Confederação – formada por 39 estados soberanos, sem força política – inspiração austríaca. A Prússia assumia princípios absolutistas, com uma visão liberal baseada no desenvolvimento econômico acentuado, e o Sul do território da atual Alemanha adotava em suas constituições o ideário conservador francês – resquícios do exército vencedor no território em questão.
Príncipe Frederico Carlos da Prússia e sua tropa - Batalha Königgrätz- Prussianos forçaram os Habsburgos. Iniciativa para a formação da Kleindeutschland - Pequena Alemanha, "Alemanha sem a Áustria" - 1866.























Nesse cenário socioeconômico e político da Alemanha, na primeira metade do século XIX, nasceram os meninos: Hermann Bruno Otto Blumenau e Johann Friedrich Theodor Müller. O primeiro, fundador da Colônia Blumenau e o segundo, naturalista- pesquisador, professor, biólogo e parceiro das pesquisas de Darwin. O primeiro, era filho de Karl Friedrich Blumenau  (Chefe dos Guardas Florestais e Minas do Ducado) e de Cristiane Sofie Kegel. O segundo, era filho, neto e bisneto de pastores luteranos, e também, neto de um professor, industrial, farmacêutico, químico e pesquisador. Seu pai era o pastor Johannes Friedrich Müller. Quando completou seis anos de idade, mudou-se com a família, para a cidade de Mühlberg.
Localização de Hassenfelde (Saxonia) e Erfurt (Turíngia) - Cidades de Estados vizinhas - e também Mühlberg - para onde Fritz e família mudaram-se .






















Hassenfelde
Estação de Hassenfelde - Cidade Natal de Blumenau - Explica o projeto que trouxe consigo para o Vale de Itajaí - de construir uma Estrada de Ferro para complementar o modal de transportes fluvial.
Hassenfelde.
Erfurt
Erfurt - Medieval.















Erfur Atual.
Mühlberg

primeira escolaridade dos dois personagens seguiu linhas diferentes e tempos diferentes. 
Blumenau ingressou na escola de Hassenfelde com 6 anos de idade e permaneceu ali até a idade de 10 anos - completados em 1829, quando ingressou em um pensionato da Shoppeenstadt, na cidade de Grosswinnisgstedt. O diretor do pensionato era o pastor Götting.
Ducado de Grosswinnisgstedt.
Blumenau ficou doente quando tinha 12 anos, em 1831. Por conta disso, ficou com a audição comprometida e com sequelas para o resto da vida. Em abril de 1832, ainda no Pensionato de Shoppenstadt, fez a Confirmação na Igreja Luterana. Algumas semanas depois, mudou-se para a capital do ducado para estudar na Escola Cathatinenseum.  (Fritz ainda não havia ingressado na escola).
Fritz ingressou no Ginásio de Erfurt com 13 anos de idade, em 1835 (bem depois que Hermann Blumenau) e residiu com seu avô materno, o conhecido Johannes Bartholomaeus Trommsdorff, renomado farmacêutico e químico, que teve muita influência nos estudos e formação do jovem.

Um pouco sobre Johannes Bartholomaeus Trommsdorff

Trommsdorff, avô materno de Fritz Müller (e filho do farmacêutico, médico e professor de Medicina, Wilhelm Bernhard Trommsdorff - 1738 - 1782), começou a estudar química na WH Buchholz em Weimar no ano de 1784 e terminou em 1788. Depois esteve na Szczecin e Stargard. Em 1790 entrou no curso de Doutorado e em 1795 tornou-se professor na Escola de Medicina de Erfurt. Na Universidade de Erfurt ministrou palestras sobre Química farmacêutica, mineralogia, História da Química e Química Geral. É mérito de Trommsdorff a formação moderna dos Farmacêuticos, que sempre buscou elevar o nível científico da farmácia prática. Em 1795, ele fundou Pharmaceutische físico - químico - internato para rapazes, o primeiro de uma série e Institutos de farmacêuticos na Alemanha, onde se formaram inúmeros farmacêuticos em física, química e farmácia. Trommsdorff foi o pioneiro na formação acadêmica de farmácia. Quando teve que se afastar do Instituto,  em 1828, por motivos de saúde, tinha formado mais de 300 profissionais. O Avô materno de Fritz Müller também contribuiu com aspectos práticos da profissão de farmácia e dentro da indústria Farmacêutica.

Foi co-fundador da Erfurt Farmacêutico Kränzchens, em 1811, quando junto com seu amigo Christian Friedrich Bucholz angariou doações para uma instituição de apoio aos "Assistentes farmacêuticos abandonados". Em 1813 fundou uma fábrica de produtos químicos-farmacêuticos em Teuditz. Em 1822 foi Diretor da Academia de Ciências Erfurt e em 1827, co fundador da Associação Comercial Erfurt e do Gotha Seguro de vida. De fato deve ter tido muita influência sobre o jovem futuro pesquisador, professor e naturalista Fritz Müller.

O avô materno de Fritz Müller e o Instituto em Erfurt fundado por ele, para formação de farmacêuticos e químicos.
Fritz, desde seus 13 anos de idade (1835) até o término de seus estudos no colegial, foi aprendiz. Seu avô Trommsdorff, faleceu em 1837. Em 1840, quando Fritz tinha 18 anos de idade, foi trabalhar em uma farmácia na cidade de Naumburg an der Sale, e não gostou de trabalhar em um balcão de farmácia.
Naumburg an der Sale.






















Em 1841, com 19 anos da idadeJohannes Friedrich Theodor Müller ingressou na Universidade de Berlin, para cursar Matemática e História Natural. 
Em janeiro do ano seguinte - 1842, Hermann Bruno Otto Blumenau, então com 23 anos, foi convidado a trabalhar em Erfurt, na fábrica de produtos químicos da família Tromsdorff, por Christian Wilhelm Hermann Tromsdorff, filho de Johann Bartholomaeus Trommsdorff e de Martha Elisabetha Johanna Hover - avós maternos de Fritz, que nesta época estava estudando em Berlin.
Na cidade natal de Fritz Müller, agora trabalhando, em 1842, Hermann Blumenau conhece o Alexander Von Humbolt, e também conhece Müller. Tinham em comum o gosto pela profissão.
Erfurt - Kaiserplatz Reiterstandtbild Keiser Wilhelm I.
Em 1843, Müller conheceu o biólogo  Johnnes Müller e ficou impressionado com seu trabalho e obra. Há quem diga que neste momento decidiu estudar biologia no exterior.
Johnnes Müller nasceu em Koblenz – Foi um privatdozent de fisiologia e anatomia comparativa em Bonn – 1824, professor ordinário em 1830 e em 1833 foi para a Universidade Humbolt de Berlim até partir.
Hermann Blumenau começou a observar mais as questões e elementos naturais e despertou-lhe a curiosidade em conhecer as terras na América, influenciado pelas novas amizades em Erfurt - Humboldt e Müller. Muitos alemães migravam para a América do Norte e, em menor quantidade, para o Brasil, neste tempo para ocupar o lugar dos escravos nas fazendas de café no Sudeste do Brasil, tendo também uma corrente migratório para o estado Rio Grande - no estremo Sul do país.
Imigrantes alemães em Nova Friburgo RS - Século XIX.
Johann Jacob Sturz.
No final do ano de 1843Hermann Blumenau viajou para a capital da Inglaterra, a trabalho. Foi tentar conseguir uma patente de invenção para os preparados químicos e  autorização para a comercialização deles. Em Londres, conheceu o Cônsul Geral do Brasil na Prússia - Johann Jacob Sturz.
A conversa foi longa com o diplomata brasileiro na Prússia. Neste encontro, Hermann Blumenau ouviu muitas histórias sobre o Brasil, desde narrativas sobre a natureza e muito da propaganda do que o governo brasileiro vinha fazendo na Europa, para atrair imigrantes para ocupar as fazendas de café e povoar, o quanto antes, o inabitado sul do Brasil. Temia que esta região fosse tomada à força pelos vizinhos de língua espanhola. O governo brasileiro não podia pedir ajuda a Portugal, país do qual acabara de se libertar, em 1822. Necessitava fortalecer os limites do sul, cujo interior era praticamente inabitado. E as fazendas de café estavam com problemas com o aumento da mão de obra escrava mediante a não permissão de compra de novos escravos e logo seria, de fato abolida a escravatura no Brasil. Tudo explicado na postagem - clique sobre, para ler: Imigrantes alemães nas Fazendas de Café do Rio de Janeiro - São Paulo e depois - Santa Catarina - Século XIX - Kaffeepfklücker
Tecelões da Silésia - Nesta mesma época ocorre transformações sociais 
nas cidades de língua alemã também - Karl Marx era contemporâneo
de. Blumenau e de Müller.
Enquanto isto, a Europa passava por algumas transformações sociais, econômicas e políticas. 
Revolta na Silésia.
Impresso de propaganda do governo brasileiro na Alemanha - aliciando imigrantes para ocupar o lugar dos escravos nas fazendas de café no Sudeste do país.

























No ano seguinte, em 1844,  Fritz Müller graduou-se na Universidade de BerlinDefendeu a dissertação com o tema: "De hirudinibus circa Berolinun hucusque observatis". Logo a seguir submeteu-se à exames de Professor Superior, na Prússia. Mas não deu prosseguimento a tentativa.
Universidade de Berlin.
Müller tinha planos de trabalhar na Prússia. Durante algum tempo, sondou a possibilidade de procurar, na Prússia, um cargo de professor superior, porém sua conduta ideológica impediu que seguisse com seu plano. Era contrário à prática de prestar juramento, me nome de Deus, como funcionário do Estado da Prússia, com o seguinte teor: Que Deus esteja do meu lado, em nome de Jesus Cristo. Pediu ao ministério que o liberassem desse juramento, substituindo-o por um simples aperto de mão, o que lhe foi negado.
Sem opções, Fritz Müller aceitou um cargo de professor domiciliar em Neuvorpommernn - Pomerania Ocidental. 
Em 1845Fritz Müller retornou para Erfurt, como professor ginasial das cadeiras de Álgebra História Natural. Sua tentativa de ser professor na Prússia não deu certo, por diferenças filosóficas e políticas. Neste mesmo ano, iniciou Medicina em Greifswald, e não concluiu o curso por conta, também, de ter que fazer o juramento em nome de Deus. Ateu convicto, não concordava com o juramento. Tentou mudar as palavras do juramento, mas os responsáveis não concordaram. Preferiu, então, abandonar o curso.
Nesta época, Müller era filiado à "Comunidade Livre" formada e coordenada por Gustav Adolf Wislicenus - Grupo que não aceitava a tutela espiritual feita pela Igreja Luterana e sua vinculação ao Estado absolutista.
Sua ideia era formar-se médico e exercer sua profissão em um navio - juntando o útil ao agradável - através de seu trabalho à bordo, conhecer outros países, principalmente os exóticos, como o Brasil - oportunidade de pesquisas inéditas.
Acreditamos que tenha comentado esta ideia com seu amigo - Hermann Blumenau. Fritz era rebelde, mesmo sendo descendente de três gerações de pastores luteranos.
Enquanto Fritz Müller fazia a faculdade teve como principais colegas de turma: seu irmão - Hermann Müller, Max Schulze, Oskar Schmidt, o autor da publicação: Ciências Físicas e Naturais - Anton Karsch e o futuro diretor do Ginásio Real de Berlin - Franz Wenslaff.
Hermann Müller.
Registramos que Hermann Müller permaneceu morando na Europa. Quem partiu, posteriormente junto com Fritz para o Brasil, foi o outro irmão - August Müller. Os dois irmãos de Fritz eram mais novos que ele. 
August Müller nasceu em 1826, na cidade de Windschholzhausen - em Turingrastendo e faleceu em Blumenau em 3 de maio de 1904 (Entre outras coisas, foi Professor na comunidade de Salto Weissbach). Hermann Müller e que estudou com Fritz Müller em Greifswald e trocava assídua correspondência com o irmão mais velho nasceu em 1829 e morreu na Suíça, em 1883, com a pouca idade de 54 anos.

Prosseguindo...
Enquanto isso, curioso após o encontro com o Diplomata brasileiro - Sturz, em Londres - Blumenau se demitiu da fábrica de produtos químicos do tio de Fritz Müller e fez sua matrícula, na Universidade de Erlangen, na cidade de Nürenberg - Lembrando da ideia de Müller -  de após formado Doutor poder trabalhar em um navio.
Neste tempo, Fritz Müller já era formado e era professor em sua terra natal - Erfurt.
Portão de entrada da Universidade de Erlangen.
Hermann Blumenau pesquisou muito sobre a imigração e a colonização no Brasil. Procurou conversar com brasileiros, pesquisou a história do Brasil e a movimentação migratória que aconteceu de seu país para o Brasil. Neste mesmo tempo, muitos alemães migravam, atendendo a propaganda que alardeava as vantagens de trabalhar com o café nas fazendas do sudeste brasileiro.
Em 1846, Hermann se formou químico, mesmo não tendo terminado o ginásio e químico não é um profissional que faz uso do título "Doutor", como também há políticos na atualidade que se apropriam do título, erroneamente. Doutor é um título conquistado mediante a conclusão e aprovação de um curso de Doutorado.

Para ler mais (Porque não usamos Dr. na frente do nome de Blumenau - Clicar sobre:  DOUTOR  ou ainda sobre: DOUTOR 1

Prosseguindo...
Neste ano de 1846 - nascia a neta de Dona Leopoldina
Princesa Isabel do Brasil - Foto de 1870.
No final da década de 40 do século XIX, chegavam notícias do Brasil  na Alemanha. As notícias mencionavam a propaganda e promessas do Estado brasileiro, na Europa  - Alemanha - aliciando pessoas que mudassem para o Brasil para trabalhar nas fazendas de café e para povoar o sul do Brasil. Na Europa, as notícias que chegavam não muito positivas sobre o estado em que estes imigrantes viviam no Brasil. Parte das promessas de propagandas não era cumprida e, muitos ficavam em situações muito difíceis após a grande viagem. 
Os imigrantes foram atraídos por propagandas enganosa para o Brasil para substituir a mão de obra escrava nas fazendas de café. O Sul do país era despovoado e atrasado economicamente - também corria risco de ser invadido pelos espanhóis. Muito da propaganda divulgada na Europa não se cumpria. Chegavam notícias na Europa da situação dos imigrantes no Brasil. O Governo alemão organizou "Sociedade de Proteção aos Emigrados Alemães" - Charge que chegavam na Alemanha, ilustrando uma possível realidade vivida pelos imigrantes nas fazendas de café.
No início do século XIX, a região sul era um problema de segurança e infra
estrutura para o governo central brasileiro recém liberto de Portugal.
Um oficial alemão no Rio de Janeiro - residiu de 1824 até 1826 - escreveu um livro de memórias contando o que presenciou e de como eram tratados os imigrantes alemães.  O título do livro é O Rio de Janeiro como é - 1824 - 1826 de Schlichthorst. O autor - imigrante alemão foi ex oficial do Imperial Exército Brasileiro. O livro foi relançado traduzido pelo Senado da República do Brasil
Atento aos "ecos" que chegavam do Brasil, relacionado à situação dos alemães emigrados, o governo alemão criou a "Sociedade de Proteção aos emigrados Alemães" Colonisation Vereins Hamburgo - 1845/1846 - com sede em Hamburg.
Imigração alemã - São Leopoldo - RS - 1824.
Texto publicado na Revista Blumenau em Cadernos
Existiam as denúncias e Blumenau, oportunisticamente veio como fiscal
do governo alemão verificar estas. Se existissem ele viria do mesmo jeito,
pois se inscreveu para o cargo para observar o Brasil, com o seu objetivo
em mente. Mais tarde, foi um dos propagandistas e porta voz do
governo brasileiro na Alemanha. Os maus tratos prosseguiram.
Oportunisticamente, com intenções claras de conhecer o Brasil pessoalmente, Hermann Blumenau não perdeu tempo em candidatar-se a uma vaga de Agente Fiscal do governo alemão da "Sociedade de Proteção aos Emigrados Alemães". Como representante oficial do governo alemão, visitou colônias de imigração alemã nas Províncias do Paraná, Santa Catarina,
Porto de Hamburg
 Rio Grande, além das
fazendas de café do Sudeste brasileiro.
Em maio de 1846, com 27 anos de idade, 4 anos antes da fundação da formal de sua colônia privada, Hermann Blumenau viajou para o Brasil, a partir do porto de Hamburg, como representante da sociedade e com isto, com a viagem custeada - para averiguar a situação dos imigrantes alemães. O contato pode ter ocorrido por meio de Johann Eduard Wappäus.  Hermann Blumenau foi o autor da publicação intitulada "Emigração e Colonização Alemã", que Johann Eduard Wappäus anotou e publicou em 1846, como professor de geografia, sem citar o nome. Blumenau usou relatórios e avaliações de Johann Jakob Sturz (1800-1877), que havia feito campanha pela abolição da escravidão sob sua própria perspectiva. Isso porque em 1843, Sturz havia se tornado Cônsul Geral do Brasil na Prússia na Prússia e com quem, em 1843, Hermann Blumenau se encontrou em Londres, quando ainda trabalhava para o tio de Fritz Müller,  Trommsdorff. 
Quando chegou ao Brasil como fiscal, Hermann Blumenau estava há pouco tempo a serviço da "Sociedade de Proteção aos Emigrados Alemães".  
Blumenau viajou por mais de dois meses e chegou no Rio Grande, em 19 de junho de 1846. Visitou alguns locais, fazendas e fez pesquisas para seu projeto pessoal, narrado, através de correspondência, aos seus pais - na Alemanha
Ao contrário de verificar a situação de seus contemporâneos emitir relatórios ao governo prussiano, fez contatos e outras pesquisas, visando montar sua colônia.
Publicação de Blumenau em Cadernos.
Primeira Carta de Hermann Blumenau aos pais - Alemanha
"Depois de ter me referido a assuntos em geral, quero agora fazer-vos destes mais detalhadamente, mesmo que eu, de novo, não possa escrever como desejaria, por ter muito o que fazer e estar com a vista bastante afetada.Preciso adiar ainda um relatório extenso, para quando tiver mais tempo e estiver melhor ambientado. Agora, portanto, só assuntos, esparsos da minha vida e atividades, desde a minha chegada ao Rio Grande, de onde só lhes mandei duas cartas mensagens, por não me ter sobrado tempo para comunicações mais demoradas e ainda pela razão de ter sabido, tardiamente, da partida dos respectivos navios. Viajei de vaporzinho do Rio Grande a Pelotas, situada a noroeste, no rio São Gonçalo, que liga a lagoa Mirim com a dos Patos. A passagem levou cinco horas e foi agradável. As ribanceiras do rio são baixas e pouco pitorescas, mas de longe, no noroeste, aparece uma linda cordilheira azul, a Serra dos Tapes. Nas margens do Rio São Gonçalo, vi, pela primeira vez, uma capivara entre os juncos, uma espécie de animal que se assemelha ao hipopótamo em dimensões menores, vivendo quase sempre dentro d’água, tem o tamanho de um porco pequeno. Avistei também algumas espécies de pássaros esquisitos. O comandante do vapor, amável conterrâneo, permitiu-me pernoitar a bordo, onde eu, sob o meu casacão, dormi regularmente bem. No dia seguinte, mandamos chamar um outro alemão, bem conhecedor da região - uma espécie de tropeiro - para conversar com ele sobre uma incursão ao interior, que eu pretendia fazer, indaguei sobre tudo que me interessava, tirando informações valiosas. Depois andamos pelos arredores, onde cheguei a conhecer muita coisa que me era novidade e que observei com grande interesse. A vegetação, particularmente, era para mim estranha novidade, as palmeiras, os arbustos de mamona, cactáceas da grossura de uma perna e com 12 a 6 pés da altura, ficus-índica, uma outra qualidade de cactus aproveitada para sebes, enfim não sendo muito fértil a região, muita novidade apresentava para mim. Bem do lado, onde atracava o vapor, encontrava-se uma charqueada, onde é preparada a carne-seca salgada, e onde estavam sendo secados os couros e procedido o aproveitamento da gordura. Tais charqueadas se estendem ao longo do rio, no percurso de duas horas, sendo que as maiores aproveitam, diariamente, 300, 400 e até 600 cabeças de gado. A vista e o cheiro dessas charqueadas são horríveis - sangue, ossos, carne apodrecida e peles, estômagos e intestinos em decomposição em toda parte, pesteando o ar. Os chifres, ligados ainda a uma parte dos ossos da testa são aproveitados para cercados, dentro dos quais são mantidos porcos e outros animais que, parcialmente se alimentam de sobras de carne. Onde quer que se pise, para onde quer que se vá, sempre o mesmo aspecto de sangue, estômagos apodrecidos e mau cheiro. Fiquei deveras contente quando de lá saímos, por mais interessante que o assunto fosse. Os proprietários dessas charqueadas, os "charqueadores", são geralmente gente bruta, principalmente enriquecidos nos últimos tempos. Se a paz for restabelecida no país vizinho, para o que as expectativas atualmente são boas, o lucro torna-se-á menor, mas sempre ainda bastante compensador.Mais tarde visitei ainda um negociante alemão, que me acolheu muito bem, tendo me oferecido pouso e um cavalo, dispondo-se a fazer uma excursão comigo. Andei depois por ali assim, tendo visto pela primeira vez, um lindo pomar de laranjeiras, que apresentava um esplendido aspecto, as árvores de ramagem escura e copa arrendondadas, onde apontavam as maravilhosas frutas que estavam justamente amadurecendo. É um belo espetáculo observar-se os pomos dourados, um perto do outro, às centenas! Os pés já produzem no seu quinto ano e consta que, já no décimo ano dão 4 a 6 mil frutas anualmente (Propaganda para os conterrâneos!). No interior me afirmaram que há laranjeiras de 8 polegadas de diâmetro de renderiam seus 4 a milhares de frutas por ano e teriam apenas 8 anos. À noite, encontrei em casa do Sr. Claussen ainda alguns brasileiros, todos já um tanto alcoolizados, com os quais palestrei a respeito de minha excursão, sobre a qual, depois de muita discussão, finalmente nos entendemos. Mais tarde, ainda apareceu um grupo de jovens, fantasiados de polacos e poloneses, dançando a polca ao compasso de uma esquisita, ms bonita modalidade de música, que era novidade para mim: uma pequena flauta com acompanhamento de pandeiro. Após os outros terem ainda "champanhado" vastamente e eu meditado sobre os meus planos para o dia seguinte, fomos dormir. Subi a minha cama de campanha e cobri-me com um cobertor e o meu casacão, dormindo bem até o raiar do dia, quando o meu comandante veio do vapor buscar-me para o início da jornada à Serra dos Tapes. Começou então a balburdia. O gerente da casa de hospedagem Claussen e alguns fazendeiros ali hospedados, todos ainda sob o domínio das consequências da champanha, não encontravam meios de se acordarem. verifiquei também que havia cavalo para mim, mas que não havia arreios. Tive que andar para lá e para cá e isso com os negros na sua insuportável moleza. Era de enlouquecer. Finalmente, passadas quatro horas, estávamos prontos para partir, isto é, o comandante e eu, pois todos os demais estavam de ressaca, o que não mais me desapontou, convicto, como fiquei, de que eles só estorvariam os meus propósitos. Através de uma região de terras baixas, por vezes pantanosas, dirigimo-nos, montados nos nossos cavalos, em direção noroeste, ao encontro da montanha.Três horas distantes da cidade, na propriedade de um amigo do comandante, pretendíamos trocar de cavalos. Não o encontrando, entretanto, em casa tivemos que continuar nos mesmos animais, que não eram lá muito bons. Um pouco adiante paramos em um estância para nos refrescarmos. O proprietário também não estava em casa, mas sim a patroa e uma irmã dela, ambas chinas, ou índias, com olhos um tanto oblíquos, pele amarelada e cabelos pretos muito compridos. Como fosse domingo, estavam elas bem arrumadas, com vestidinhos bonitos e modernos, os cabelos penteados e bem trançados. Interessante era o contraste destes requisitos da civilização com a absoluta ausência de bons modos. Uma delas puxou as pernas, com a maior naturalidade, para cima do banco, encostando o queixo nos joelhos, enquanto a outra, penteando uma criança, falava com o meu companheiro ao mesmo tempo que, com o pente, palitava os dentes. Lá tomei pela primeira vez o chá mate (erva mate) a folha de um arbusto em forma de árvore, a qual é torrada e socada. Sobre certa porção desta erva, se põe água fervendo (e açúcar quem quiser), sugando-se o líquido através de um canutilho de folha de Flandes, ou ouro, que termina em uma pequena bola perfurada, que se coloca dentro do chá. De início é fácil queimar-se a boca, como a mim aconteceu, mas depois saboreia-se com gosto esse chá e também sem açúcar, o qual, segundo se diz, muito mais saudável. É preparado sempre na casca de uma pequena abobora garrafa, do tamanho de uma mão fechada, às vezes enfeitadas com lindas decorações de prata. Suga-se enquanto tiver chá. Depois, vem uma negra, pega a cuia, e despeja nela novamente água fervente e assim a cuia continua a rodar não se devendo limpar, de maneira nenhuma, a bombilha, mesmo tendo saído, talvez, da boca de um vizinho bastante sujo, porque isto seria interpretado como ofensa. Quando o mate perde o gosto, é jogado fora e coloca-se nova porção de erva. De lá partimos, após agradecimentos pelo gentil acolhimento, efusivos mas formais, tendo alcançado, após várias horas, na colina anteposta à serra outro amigo hospitaleiro, numa propriedade maravilhosamente bem situada, fazendo jus ao nome: "Muito Bonito".Fomos acolhidos com muita gentileza e dignidade, tendo eu experimentado aí, pela primeira vez, uma refeição à maneira nacional: carne de vaca, bem picadinha, com toucinho. O prato é acrescido de farinha de mandioca) produto conseguido pela raspagem, prensagem e torração da raiz de mandioca) que se mistura à carne, e de que eu gostei muito, jantando-se ainda laranja à vontade. A permanência ali foi muito interessante. A propriedade é muito bonita, um quarto de légua quadrada, totalmente cercada de laranjas e outras frutas. Mandei pedir informações pelo valor aproximado da mesma, obtendo a resposta que, ao preço de 12.000 dólares (18.000 Thalers) estaria certamente à venda. Seria uma propriedade para um agricultor abastado (Interesse nos negócios de terras). Fica à seis horas de viagem da cidade e do porto de Pelotas, margeada de boa estrada. Lá encontrei, por primeiro, as variedades de laranjas (ou da nossa "Apfelsine", de casca alaranjada), das quais existem diversas espécies de tamanhos e gostos diferentes, assim como acontece com nossas maçãs. Tem aqui, uma laranja lima, de casca amarelo-claro, cor de limão, doce, mas um tanto insonsa, a lima de umbigo e a bergamota (da qual se obtém o óleo de bergamota) que também é doce mas nada de gosto especial. As limas são inferiores às laranjas no gosto, mas tem a vantagem da produção durante todo o ano, enquanto a laranja é apenas de seis meses. Depois há o limão, do qual também existem várias qualidades, alguns bem maiores e bastante mais ácidos do que o nosso limão, e por fim as qualidades azedas (cidras) que na Alemanha, chamamos de "Pommeranza" ou laranja azeda.Havia ainda outras árvores frutíferas, como figos, pêssegos, pinheiros, (que dão uma qualidade de nozes) como ainda cana de açúcar, batatas, etc. (Vegetais que vi ali pela primeira vez). além disso havia uma porção de arbustos floridos, mesmo sendo inverno na época, principalmente uma espécie de acácia de flor grande purpúrea quase escarlate.Foi uma pousada agradável, aumentada ainda pela gentileza simples e agradável, mas de grande dignidade, daquela gente. Depois de termos consumido farto almoço, chupado laranjas e tomado café para finalizar, partimos ao encontro de outro amigo ainda, o qual mora a várias léguas de distância, na montanha. Anoiteceu entretanto, e nos vimos obrigados a pernoitar a uma milha de distância do nosso destino, em outra fazenda localizada mais esplendidamente ainda do que a "Muito Bonito". Fomos bem recebidos e nos serviram, a pedido de meu companheiro, ainda um pouco de linguiça e farinha, pois eu estava com bastante fome. O leito era duro e a noite gélida, e como tivéssemos apenas nossos casacos para nos cobrir, sentiram um pouco de frio, mas, mesmo assim, dormi muito bem. Durante a noite, os moradores daquela fazenda começaram a tarefa de descascar raízes de mandioca para o preparo da farinha, ao clarão de enormes tochas. Não havendo mais sossego, nos levantamos e observamos, por algum tempo, a faina. Depois pegamos as nossas montarias, o que levou bastante tempo e partimos, após os merecidos agradecimentos. No alto dos morros havia geado fracamente, mas nos vales, a camada era mais grossa, e havia gelo da grossura de um dedo nas poças d'água que, entretanto, derreteu muito depressa.Foi uma magnífica manhã fria e eu mesmo, com região glútea bastante prejudicada, me encontrava em rósea disposição. Depois de duas horas, chegamos à fazenda do Senhor Serafim Barcelos, onde o meu companheiro, lutando entre um grupo de revolucionários, se encontrara aquartelado por diversas vezes. Fomos recebidos com a mais gentil cordialidade, e fizemos passeios de reconhecimento pela região e pela fazenda, tendo eu recebido muitas informações sobre produtos agrícolas, agricultura, valor das propriedades, etc., sobre o que escreverei em outra ocasião. Depois de um sólido almoço, com muita e boa carne, mas sem pão que era substituído por farinha de mandioca, entramos na mata e dirigimo-nos a diversos ribeirões onde, segundo consta, teriam sido encontrado minérios (de ferro), os quais eu queria examinar. Não encontramos nada do gênero, mas vi diversas flores lindas e árvores e outras coisas interessantes, de maneira que o tempo passou depressa demais. Os curso d'água naquela região contem todos eles ouro, e, em vários pontos tanto que um homem pode ganhar de um a três ducados diários. (Propaganda!) Isto é muito, mas essa faina estraga a gente como um jogo de azar - muito empobrecem, outros enriquecem consideravelmente, mas todos se tornam, pela tarefa fácil de obter lucro, preguiçosos e desordeiros, ao passo que a labuta naquele solo bom e fértil alimenta o homem, garantidamente. Foi lá que vi, também pela primeira vez, abelhas nativas que fazem os ninhos nas selvas, onde são apanhadas. Não tem ferrão, são menores que as nossas abelhas e, nem de longe, tão agressivas. Fazem os ninhos em partes ocas de troncos de árvores: as células são grandes, como avelãs e a cera é escura e um tanto mole, sendo o mel fino, mas saboroso. Para obter-se o enxame, derruba-se a respectiva árvore, serrando-se depois o tronco dos dois lados da cavidade, rachando-se em seguida o bloco para tirar o mel e a cera. Depois, junta-se e amarra-se novamente as duas partes, e tapa-se tudo com barro, deixando-se apenas uma pequena abertura. Nestes blocos pendurados, as abelhas voltam aos ninhos antigos, onde produzem novamente. O processo é muito primitivo. A apicultura metódica, na forma que se faz com abelhas europeias, deveria dar bons resultados. A tardinha, após despedida cordial, com abraços e repetidos convites para outra visita, partimos para alcançarmos ainda "Muito bonito", onde nos haviam convidado para pernoitar.Desorientamo-nos, entretanto, e cavalgamos pela região até às nove horas da noite, sem avistar casa alguma. Quando por fim encontramos uma estância no mato, onde se encontrava alguns negros e a proprietária, uma mulata. Mesmo que as aparências não fossem muito boa, vimo-nos obrigados a permanecer ali. Ainda nos serviram algumas costelas assadas ao fogo, além de farinha. A fome temperou a refeição simples, que não foi de grande asseio, tendo os dedos de fazer as funções de garfos. Depois nos serviram mate e fumados ainda alguns cigarros, e tendo eu rememorado os acontecimentos do dia, deitamo-nos para descansar dentro de uma cabana inacabada, sem paredes ainda, mas com coberta. O leito improvisado sobre uma porta era duro, porem o cansaço nos fez dormir bem. Partimos ao raiar do dia em direção a "Muito Bonito", onde fomos novamente recebidos com muita amabilidade. Depois de bem alimentados, tendo passada mais uma revista na bela propriedade, partimos, tendo chegado ao cair da noite em Pelotas, com a região glútea bastante maltratada, mas absolutamente satisfeitos com o resultado da excursão. No dia seguinte, visitei uma fábrica de sebo nas proximidades, por cujo proprietário, um francês, fui muito bem recebido e que me mostrou as instalações, tendo conversado com ele sobre tudo que se pode ali empreender, ainda. O homem havia iniciado, fazia cinco anos, com pouco recursos e, através de muito trabalho e empenho, possui agora, uma grande fábrica com 25 escravos. Ele deu-me esperanças para um empreendimento químico, convidando-me, também, para fazer o necessário estágio no seu estabelecimento, para o caso de eu resolver voltar a Pelotas para estabelecer-me ali.No dia seguinte voltei ao Rio Grande, onde precisei embarcar imediatamente no vapor que zarparia no dia seguinte, com destino ao Rio. Sobre esta viagem, comunicarei na carta seguinte. Desde que pisei em terra firme, como meus queridos pais podem verificar, quase não tive tempo pra dedicar-me a mim mesmo. Já vi que, aqui, o empenho para a fixação em algum empreendimento é maior do que na Alemanha, mas também são as possibilidades em relação aos lucros. Aqui, no Rio de Janeiro, a hospitalidade anda danadamente escassa; Todas as minhas recomendações serviram-me de quase nada. Tendo de gastar, assim, muito dinheiro, pretendo afastar-me, o mais depressa possível. Em convites para a mesa, sem se fala, o que mesmo não é possível, porque quase todas as famílias (estrangeiras) moram longe, por vezes duas horas de distância do centro, e só aqui chegam para cuidar dos negócios, voltando logo depois. O Sr. H. Fröhlich, para cujos filhos eu trazia cartas, sem procurei, porque ele, segundo consta, parece ser um homem bastante original. Simples jornaleiro antigamente em Brehmen, estaria ele aqui hoje muito rico, pelos próprios esforços, mas de maneiras bruscas e insultuosas, muitas vezes, tendo eu sido advertido de não procurá-lo, para poupar-me de aborrecimentos. A filha (no endereço ainda "Fräulein" é agora Madame Emília, recebeu-me muito bem em companhia de seu marido e de um primo, morando eles também uma meia hora de viagem distante da cidade. As cartas de recomendação, desta maneira, com exceção de alguns bons conselhos, que de fato me valeram, nada de positivo resolveram para mim. Travei, entretanto, outros conhecimentos com pessoas que se empenharam bastante por mim, apoiando-me no desempenho de meus objetivos. Encontrei aqui, aliás, uma família com a qual pretendo estreitar relações, onde fui muito bem recebido, se ter sido recomendado. O chefe desta família é um comerciante hamburguês, Sr. Bahre, homem muito inteligente, se bem que excêntrico, que veio para cá com os mesmo objetivos que eu, isto é colonização. A amabilidade calma da esposa é o equilíbrio para as adversidades criadas pelo caráter do marido. Esta família pretende estabelecer-se em Pelotas ou Montevideo e, possivelmente, eu os acompanharei, tanto mais quanto o Sr. Bahre me fez propostas para um empreendimento em comum, caso não sejam realizáveis os nossos objetivos de colonização. Na província do Rio Grande, a hospitalidade é muito grande, podendo-se viajar durante meses sem fazer gastos, além de alguns talers em milho para os cavalos. É tido como ofensa oferecer-se pagamento em uma propriedade onde se comeu, bebeu e pernoitou. Quem é dedicado às crianças, pode contar com o mais sincero acolhimento, mesmo para uma permanência mais prolongada. Se eu, portanto, me decidir a fazer viagens de sondagem ao Rio Grande, às despesas serão mínimas. O que se conta aí de animais selvagens e cobras também não é tão assustador. Quem quiser ver uma onça, ou um tigre, vivos nas selvas, deverá mesmo caça-los, pois evitam timidamente o homem, atacando mesmo só quando muito famintos, ou então quado feridos. É interessante que não é atacado o branco, quando este se encontra em companhia de um negro, que então será cobiçado. Com as cobras o caso, igualmente, não é tão grave como supõe. Consta que há muitas, segundo alguns dizem, mas as mordidas são relativamente raras, porque as cobras são medrosas e fogem, se tiverem alguma oportunidade.(Seguem considerações sobre o assunto, como também da calamidade dos mosquitos, etc. Anotação na cópia da carta da qual foi feita esta tradução.) No Rio Grande estas calamidades são menores, e no inverno, em que estamos pouco se percebe das mesmas. Mas mesmo que fossem um pouco mais graves, a terra e o clima pelo menos no Rio Grande, ao qual sempre se voltam os meus pensamentos, são tão excelentes que se pode suportar também algumas adversidades. Um céu ameno, não demasiadamente quente, nem frio demais, seco e saudável, solo ubertoso e fértil, frutas maravilhosas, todas as qualidades de frutas e hortaliças europeias, que mais poderia almejar? Além disso, há minérios e carvão, ouro, comércio e bons salários. Poderia existir terra melhor para os alemães? Só talvez, um pouco mais de fé e boa vontade da parte do governo. Em Montevideo, o clima é mais frio, mas saudável da mesma maneira. Com a paz restabelecida, consta que muitos alemães pretendem transferir-se para lá, onde há mais justiça que aqui. O trigo da ali muito bem, que antigamente se cultivou com muito sucesso no Rio Grande, onde, desde uns 20 anos passado, é atacado pela "ferrugem", não dando mais lucro, foi substituído pelo plantio de outros cereais além do milho, batatas, mandiocas, etc. Caso eu não consiga nada no Rio Grande, irei, provavelmente com o meu projeto de colonização a Montevideo, para onde já tenho propostas da parte de um espanhol rico, mas cujas bases ainda não estudei bastante. De qualquer maneira, contanto que a minha vista permaneça boa, poderei eu arrumar aqui o meu futuro, podendo afirmar desde já, que jamais arrepender-me-ei de ter vindo para cá, contanto que eu possa preservar a saúde.(Segunda a cópia de onde foi feita esta tradução, à carta seguiam conselhos para os sobrinhos Gaetner e Kegel, caso quisessem emigrar para o Brasil).=
Hermann Blumenau
Terminada em 5 de agosto de 1846.“
Em 1847, Hermann Blumenau ouviu alguns conterrâneos seus no Sul do Brasil, pesquisou possibilidades de negócios e fez contatos. Neste tempo, em abril, a partir de Nossa Senhora do Desterro, esteve em São Pedro de Alcântara, conheceu sobre a migração interna de famílias para o Vale do Itajaí. Visitou a região, quando conheceu a família Wagner e seus amigos. Teve boa impressão.  
Depois, seguiu para a capital do Brasil - a cidade do Rio de Janeiro. Permaneceu na cidade do Rio de Janeiro, por aproximadamente 8 meses, igualmente efetuando estudos e contatos. Em 1848, Blumenau retorna à Alemanha para recrutar imigrantes. Em 1850, fundou sua própria colônia - a Colônia Blumenau, uma empresa privada com a característica de uma colônia agrícola.
Rio de Janeiro - 1843.
Neste tempo, antes de embarcar, articulou e procurou conhecer toda a tramitação para efetivação da imigraçãocolonização de terras, bem como suas vantagens e desvantagens. Também estudou clima e a geografia de algumas províncias do Brasil.
Nossa Senhora do Desterro na década de 40 do século XIX.
Hermann Blumenau retorna para a Alemanha, e ao contrário de narrar os pontos negativos sobre as colônias alemãs no Brasil, conta as vantagens de vir para  o país. 
Toma as providências necessárias para materializar a fundação da Colônia Blumenau no Vale do Itajaí, Província de Santa Catarina.
A data de fundação da Colônia Blumenau ficou registrada no dia da chegada dos 17 primeiros imigrantes alemães  à região, no dia 2 de setembro de 1850 - Via embarcação fluvial.

O Stadtplatz (centralidade urbana) foi o primeiro núcleo urbano da Colônia. Os primeiros imigrantes participaram diretamente da construção e espacialização dos primeiros elementos urbanos. O parcelamento foi iniciado em 1852 através da medição e demarcação dos lotes coloniais.
Stadtplatz - Colônia Blumenau
 Entre 1849 e 1852, Fritz Müller trabalhou como professor particular na Pomerânia Ocidental, onde conheceu sua futura esposa. Mudou-se de Pomerânia, por sofrer perseguições políticas relacionada à Revolução de 1848 - Guerras germânicas de unificação.
Hermann Blumenau convida o amigo - Fritz Müller a migrar para sua colônia - a Colônia Blumenau.
Colônia Blumenau
Fritz Müller.
Em 19 de maio de 1852Fritz Müller, esposa, sua filha mais velha e seu irmão, embarcam de Hamburg para o Brasil, para o Vale do Itajaí - Colônia Blumenau. Não retornou mais a residir na Alemanha.
A família Müller chegou à costa brasileira em 19 de julho e na Colônia Blumenau, em 22 de agosto de 1852. 
Curioso é que o negociante de lotes da Colônia Blumenau -  Hermann Blumenau, vendeu aos dois irmãos Müller, os lotes com valores muito mais caros que aqueles vendidos aos demais colonos. Mesmo assim, os irmãos Müller adquirem os primeiros lotes coloniais no Vale do Garcia. Perguntamo-nos se lembrou que trabalhou nos negócios da família Müller e se oportunizou da estabilidade da família para aumentar seu lucro.
Do livro - História de Blumenau de José Ferreira da Silva - 2°ed. Blumenau: Fundação Casa Dr. Blumenau - 1988. - 299p.
Fritz Müller era autêntico e não escondia sua opção religiosa  - ateu convicto - de sua nova comunidade. Tornara-se um homem da ciência, observador e tinha na paisagem natural da recente colônia, um universo de pesquisa a desenvolver. Sua postura aberta e franca e suas palavras emitidas aos demais não deixavam Hermann Blumenau muito à vontade e sentia um certo desconforto. O filho do Pastor luterano, na Alemanha desabonava prática religiosa do luterano, quase fanático, do filho do guarda florestal, na Alemanha. Criou-se uma situação de constrangimento.Logo que Müller e a família chegou em sua terra, no Garcia, abriu uma roça e construiu uma casa temporária de palmito.
Em 1855, Hermann Blumenau entra em contato com o Presidente da Província - N.S. do Desterro -João Coutinho e oportunamente recomenda os irmãos Müller como professores de um novo colégio que o Presidente da Província pretendia abrir. O fundador da Colônia Blumenau temia que as idéias de Müller e também de seu irmão, influenciasse, de maneira negativa, os demais  colonos de sua colônia.
Para deixar registrado, seu irmão - August Müller, permanceu na Colônia Blumenau. Foi professor, por longo tempo, até sua aposentadoria, na comunidade de Salto Weissbach - atual bairro da cidade de Blumenau.

Para ler mais sobre - Clicar sobre:
August Müller e seu Diário - Colônia Blumenau - 2° metade do Século XIX
Colônia Blumenau.
família Müller hesitou e negou a partir para a Capital da Província, em um primeiro momento. Hermann Blumenau, habilmente mostrou as vantagens que teriam, se morassem em Desterro. Insistiu tanto que chegou um momento que  Fritz Müller concordou, apesar do apego que já tinha com sua nova residência.
A família Müller partiu para Nossa Senhora do Desterro e foi residir na Praia de Fora - atual Beira Mar Norte.
De 1857 até 1864, Fritz Müller foi professor de Matemática no Colégio Liceo - Desterro. Também lecionou aulas de Ciências Naturais como: Zoologia, Botânica e Química. Para ocupar o cargo de Professor, naturalizou-se brasileiro em 9 de agosto de 1856Hermann Blumenau permanecia com a nacionalidade alemã.


Desterro - Época do Professor Fritz Müller.
Em 1864, o Colégio Liceo foi fechado por motivos políticos. O professor Fritz Müller e outros dois professores continuaram dando aula em uma sala alugada pelo governo da Província, até o ano de 1867, quando foram oficialmente demitidos. Müller sofreu muito Bullying  - denominado "colono" e sem formação para o cargo de professor. Também, o novo governo, não admitia que somente professores alemães lecionassem. Via isto como perigoso à segurança nacional. Como se muitos dos portugueses residentes, também não fossem migrantes e do país do qual o Brasil se libertou. Tentaram por vias legais reaverem seus postos e mesmo tentaram lecionar no colégio católico Santíssimo Salvador, mantido pelos jesuítas italianos. Não tiveram êxito. Müller tinha a família maior. Após muita conversa e ciente de seus direitos trabalhistas, uma vez que era professor através de concurso público e com mais de 4 anos de trabalho em sala de aula, ficou acertado nas estâncias oficiais que o professor Fritz Müller ocuparia doravante, o cargo de Naturalista da Província. Tinha então, aproximadamente 45 anos de idade.
Foi neste recorte de tempo que trocou informações científicas e resultados de pesquisas com cientistas do mundo. Em 1864 publicou "Fur Darwin". Esta publicação lhe deu reconhecimento internacional na área da pesquisa e em 1869, é citado na publicação de Charles DarwinA Origem das Espécies, trabalho que Müller contribuiu com argumentos e comprovações a partir de estudo empírico de crustáceos na ilha de Santa Catarina.
Fritz Müller publicou na Europa, mais de 248 artigos científicos, apresentando a flora e a fauna de Santa Catarina no cenário europeu.
Müller recebeu dois Títulos de Doutor Honoris Causa das Universidades alemã de Bonn e de Tübingen quando retornou para lote colonial de Blumenau - cidade a qual amava - ainda foi Juiz de Paz e Presidente da Câmara de Vereadores. Tinha o direito, portanto, de ser chamado pelo título de Doutor Fritz Müller, coisa que não aconteceu, enquanto isso, chama-se Hermann Blumenau de "Doutor".
Faleceu com 75 anos - em 1897, na cidade que escolheu para morar com sua família -  Blumenau.








Curiosidades:
Blumenau em Cadernos - 1958 - Tomo 1 - N°7 - Maio
Dr. Fritz Müller - Sempre autêntico - muitas vezes incompreendido - pois estava a frente de seu tempo.
Viva a frente do seu e era incompreendido na sua comunidade,
mesmo assim, não mudava suas convicções.




Como, Heinz Geyer, Niels Deeke prometia fazer, também Dr. Fritz Müller, em um momento de decepção, queimou parte de suas anotações. Muitas vezes incompreendido dentro da sociedade de seu tempo e na qual escolheu para morar, e a partir da qual, tanto contribuiu para a ciência.



Em uma de suas viagens para a Alemanha, Hermann Blumenau, retornou maçom e agilizando a abertura de uma loja maçônica em Blumenau, que não foi reconhecida imediatamente. Só foi reconhecida e tida como fundada, quando Hermann Blumenau já tinha partido definitivamente para a Alemanha. Ao contrário de que muitos afirmam, seu nome não está em ata de fundação desta loja, como um dos seus fundadores.
Curiosidade - Blumenau em Cadernos de 1958 - Uma forte Característica de sua Personalidade do início de sua História no Brasil - Se adequar - Deferentemente de seu amigo, que abandonou um curso de medicina por não concordar com o juramento em nome de Deus.









































Hermann Blumenau, fundador de Blumenau, retornou para a Alemanha definitivamente em 15 de agosto de 1884. Viveu em Braunschweig - Baixa Saxônia, com a esposa - Bertha Blumenau com quem casara em 1867. Faleceu  em 3 de outubro de 1899, dois anos após seu amigo - Fritz Müller, que escolheu sua Colônia para morar e fora obrigado a se exilar dela por algumas décadas porque não comungava da mesma religião e ideário.




Blumenau em Cadernos - Agosto de 1958.
Em outubro deste mesmo ano, Hermann Blumenau é nomeado agente oficial da Colonização brasileira em Hamburgo. Sempre diplomático e parte de todos os lados.
Dr. Fritz Müller.
Hermann Blumenau.

Cemitério da Igreja Luterana Centro - Blumenau.

Cemitério da Igreja Luterana Centro - Blumenau.
Duas personalidades que nasceram na Alemanha, estudaram  e contribuíram para a formação e desenvolvimento social, cultural e econômico de Blumenau - cada um de sua maneira.
Isto dá um enredo de filme!!


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