segunda-feira, 18 de novembro de 2013

David Harvey no Brasil

Os limites do capital e o direito à cidade
Para saber mais sobre a Conferência em Florianópolis Clicar sobre: David Harvey - Conferência

O geógrafo britânico Sr. David Harvey, mundialmente conhecido por suas interpretações sobre as consequências da financeirização no Urbanismo, estará no Brasil entre os dias 23 e 26 de novembro para o ciclo de conferências “Os limites do capital e o direito à cidade”, que acontece no Rio de Janeiro, Florianópolis e São Paulo. Sr. Harvey debaterá temas atuais, como a crise econômica, o capitalismo, as manifestações de junho num contexto de conflitos globais, perspectivas de luta política, entre outros assuntos. Os eventos marcam o lançamento da primeira edição brasileira de “Os limites do capital” (http://bit.ly/1aklT4l), de sua autoria, considerada sua mais importante obra; e “Cidades rebeldes: Passe livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil” (http://bit.ly/1gVaEmI), coletânea na qual tem publicado um artigo sobre a liberdade da cidade.

Programação Completa
RIO DE JANEIRO
Sábado, 23 de novembro | 11:00h
Teatro Rival Petrobras
Rua Álvaro Alvim, 33 / 37 | subsolo | Cinelândia
Realização: Boitempo, PUC-RJ, IEAHu, CTCH

FLORIANÓPOLIS

Segunda-feira, 25 de novembro | 14:00h
Centro de Cultura e Eventos, Auditório Garapuvu
Universidade Federal de Santa Catarina | Campus Universitário | Trindade
Realização: Boitempo e Universidade Federal de Santa Catarina
Apoio: Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Centro de Ciências da Educação, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Educação, Programa de Pós-Graduação em Geografia, Programa de Pós-Graduação em Serviço Social, Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política e PIBID UFSC Ciências Sociais

SÃO PAULO

Terça-feira, 26 de novembro | 14:00h
Centro Cultural São Paulo | Sala Adoniran Barbosa
R. Vergueiro, 1000 | Paraíso
Realização: Boitempo Editorial
Apoio: Secretaria Municipal de Cultura e Centro Cultural São Paulo


Repensando as cidades... Nos dias atuais a partir de reflexões...

Área Central de Blumenau


Folha SP - 20/11/13

ENTREVISTA - DAVID HARVEY

'Privatização de tudo' gerou protestos, que vão continuar

GEÓGRAFO DIZ QUE A CRISE MUNDIAL AMPLIOU A CONCENTRAÇÃO DA RIQUEZA E CRITICA GASTOS DO BRASIL COM COPA E OLIMPÍADAELEONORA DE LUCENADE SÃO PAULO

O projeto neoliberal é privatizar e "commoditizar" tudo. No seu fracasso em realizar promessas de eficiência estão as raízes dos protestos que eclodem pelo mundo e no Brasil. Partidos convencionais, reféns do capital internacional, não conseguem canalizar a raiva das ruas. Não há ideias novas, e as manifestações vão continuar.
A análise é do geógrafo marxista britânico David Harvey, 78. Professor da Universidade da Cidade de Nova York, ele ataca os "oligarcas globais" e afirma que os bilionários foram os que mais ganharam com a crise.
Crítico de megaeventos como Copa e Olimpíada, ele diz que os governos são muito influenciados pelo capital financeiro: "Esses eventos são sobre a acumulação de capital através de desenvolvimento de infraestrutura. Os pobres tendem a sofrer, e os ricos tendem a ficar mais ricos".
A partir de sexta Harvey irá a debates no Brasil sobre o lançamento de seu livro "Os Limites do Capital" e da coletânea "Cidades Rebeldes".

Folha - Qual sua avaliação sobre a situação mundial?
David Harvey - É muito mutante e volátil. Está tão perigosa quanto sempre foi. O que me surpreende é que não há novas ideias. As receitas propostas aprofundam o modelo neoliberal ou tentam desenvolver alguma forma de keynesianismo. Ambas opções me parecem muito frágeis.

O Sr. disse à Folha em 2012 que a crise deveria aprofundar a concentração de capital e as desigualdades. Isso ocorreu?
Sim. Todos os dados mostram que o número de bilionários cresceu no mundo. Foi o grupo que melhor se saiu melhor na crise, enquanto todos os outros ou permaneceram estagnados ou perderam. O crescimento principal está sendo canalizado para o 1% mais rico da população mundial. É preciso haver uma redistribuição de renda globalmente e entre classes. O clube dos bilionários é que é o problema. Oligarcas globais controlam potencialmente ¾ da economia global. Meu ponto é: vamos para crescimento zero, sem canalizar o crescimento para eles e, ao mesmo tempo, devemos fazer uma redistribuição.

Nesse cenário haveria uma guerra, não?
Olhando para o que está acontecendo nas ruas se pode pensar que esse tipo de coisa não está tão longe assim.

Qual sua visão dos protestos pelo mundo? O Sr. defendeu a criação de um "partido da indignação" para lutar contra o "partido de Wall Street". Como essa ideia evoluiu?
Os movimentos não estão indo muito bem. O poder político se moveu rapidamente para tentar reprimir os protestos. Há também muitas divisões entre os movimentos. Sobre o futuro, é muito difícil prever. A situação é muito volátil para os movimentos.

E sobre os protestos no Brasil?
Existe uma desilusão generalizada do processo político. As pessoas estão começando a discutir como modificar os piores aspectos da exploração capitalista. Há também uma alienação, que leva a alguma passividade, que é interrompida ocasionalmente por explosões de raiva. O nível de frustração por todo o mundo está muito alto agora. Não surpreende que essas manifestações ocorram. O problema é canalizar essa raiva para movimentos políticos que tenham um projeto. Prevejo mais explosões de raiva nos próximos anos --no Egito, na Suécia, no Brasil etc.

Há conexão entre esses movimentos?
Sim, cada um tem suas demandas específicas, mas há problemas de base provocados pela natureza autocrática do neoliberalismo, que virou um padrão para o comportamento político. Ele não é satisfatório para a massa da população e fracassou em entregar o que prometeu. Há uma crise na governança democrática e uma raiva contra as formas tomadas pelo capitalismo. No norte da África os protestos foram parcialmente sobre a alta nos preços da comida. Isso diz respeito ao poder do agronegócio e à especulação com as commodities, causas da alta dos preços.

No Brasil os protestos estouraram por causa da alta nas tarifas de ônibus. Como especialista em questões urbanas, como o Sr. avalia o problema?
O projeto neoliberal é privatizar e "commoditizar" tudo. Tudo vira objeto das forças do mercado. Dizem que essa é a forma mais eficiente de prover bens e serviços para uma população. Mas, na verdade, é uma maneira muito eficiente de um grupo da população reunir uma grande soma de riqueza às custas de outro grupo da população --sem entregar, de fato, bens e serviços (transporte, comida, casas etc.). Essa é uma das razões do descontentamento da população. Por isso, explodem manifestações de raiva em diferentes lugares e em diferentes direções políticas. Há uma situação de fundo que dá uma visão comum às batalhas, embora cada uma delas seja específica e diferente. No Brasil foi o custo do transporte. Em outros lugares é preço da comida, da habitação etc.

Em São Paulo há também a discussão sobre o aumento do imposto sobre propriedade urbana. Isso também evidencia uma luta social?
Vamos chamar de luta de classes. Ela está mais evidente, mas muitas pessoas não gostam de falar sobre isso.

Partidos tradicionais foram pegos de surpresa no Brasil. Mas os movimentos não têm organização própria. Como isso pode se transformar em forças políticas organizadas?
Se eu tivesse essa resposta, não estaria falando com você agora. Estaria lá fora fazendo. A situação agora reflete a alienação das pessoas em relação a praticamente todos os partidos políticos e a sua desilusão com o processo político. Nos EUA, o Congresso tem uma taxa de aprovação de 10%. Nessa circunstância, as pessoas não vão canalizar o seu descontentamento para o processo político, pois não enxergam esperança nisso. Por isso, há essa raiva. E assim as coisas vão continuar.

O sr. concorda com a visão de que partidos de todos os matizes caminharam para a direita e que a esquerda se diluiu em ONGs e estruturas voláteis?
Há internacionalmente uma ortodoxia econômica, que é reforçada pelos movimentos do capital internacional. Os partidos políticos convencionais se tornaram reféns desse poder.

Isso acontece com o PT?
Isso é para o julgamento de seus leitores. Noto que há uma desilusão sobre o PT entre seus próprios integrantes.

O Sr. está escrevendo um livro sobre as contradições do capitalismo. Qual é a principal?
Estão mais restritas as condições que o capital tem para crescer. É muito difícil achar novos lugares para ir e novas atividades produtivas que possam absorver a enorme quantidade de capital que está buscando atividades lucrativas. Em consequência muito capital vai para atividades especulativas, patrimônio, compra de terras, commodities. Criam-se bolhas.

O sr. escreveu que é cada vez mais difícil encontrar o inimigo. Quem é o inimigo?
O inimigo é um processo, não uma pessoa. É um processo de circulação de capital que entra e sai de países. Quando decide entrar, há um "boom"; quando decide sair, há uma depressão. Por isso é necessário controlar esse processo de circulação. O Brasil tem possibilidades limitadas, porque o capital pode simplesmente desaparecer.

No início o Brasil parecia estar indo bem na crise. Agora estamos travados. O que deu errado?
Houve mudanças modestas no Brasil no sentido de redistribuir renda, como o Bolsa Família. Mas é necessário fazer muito mais. Muito dos gastos em enormes projetos de infraestrutura ligados à Copa do Mundo e à Olimpíada são uma perda de dinheiro e de recursos. As pessoas se perguntam por que o país está fazendo todos esses investimentos para a Fifa ter um grande lucro. Para o resto do mundo é surpreendente ver brasileiros se revoltando contra novos estádios de futebol.

Copa e Olimpíada não fazem bem para o país?
A Grécia está em dificuldades em parte por causa do que foi feito em razão da Olimpíada de Atenas. Muitas cidades olímpicas nos EUA entraram em dificuldades financeiras.

Como o sr. explica o poder da Fifa e do COI?
É como qualquer poder monopolista: extrai o máximo do que se tem a oferecer. Os governos são muito influenciados pelo capital financeiro. Esses eventos são sobre a acumulação de capital através de desenvolvimento de infraestrutura, de urbanização. Envolvem também despossuir pessoas, removendo-as de suas residências para abrir espaço aos megaprojetos. Os pobres tendem a sofrer, e os ricos tendem a ficar mais ricos.

Como o sr. analisa a situação política na America Latina?
Politicamente houve, na superfície, um tipo de política antineoliberal. Mas não houve nenhum verdadeiro grande desafio para o grande capital. Há discursos anti-FMI. Mas, de outro lado, o Brasil está ofertando a exploração de seu petróleo para empresas estrangeiras, por exemplo. Não é profunda a tentativa de ir realmente contra as fundações do capitalismo neoliberal. É uma política antiliberal só na superfície, na retórica. Mas há alguns elementos, como o Bolsa Família, que não fazem parte da lógica neoliberal. Mesmo a Venezuela não vai muito longe em realmente desafiar os interesses do capital.

Os EUA não perderam posições na região?
Os EUA estão mais fracos na América Latina, em parte porque o crescimento da região foi mais orientado para a o comércio com a China, que ampliou o seu papel imensamente. De muitas formas, a economia na América Latina é muito mais sensível ao que ocorre na economia chinesa do que na norte-americana.
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Ficha de leitura
CONDIÇÃO PÓS-MODERNA
David Harvey 1. Edição: 1989
Atual: 13. Edição
Edições Loyola

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA 
PÓS GRADUAÇÃO – Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade 
CENTRO TECNOLÓGICO 
Disc.:Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade 
PROF. Cesar Floriano 
Mestranda: Angelina Wittmann
Ano - 2007

Biografia
David Harvey nasceu no dia 7 de dezembro de 1935 e é geógrafo, antropólogo - com tendências marxista britânico. É formado na Unuversidade de Cambridge. Em 1987 transferiu-se da Universidade de Johns Hopkins para a cadeira de Geografia Halfrd Mackinder da Universidade Oxford, Inglaterra. 
É professor emérito da Universidade de New York, USA. 

Algumas publicações anteriores: Social Justice and de City; The limits to Capital ; The Urban Experience. 

David Harvey despontou na década de 60 no cenário intelectual da disciplina de Geografia, com a publicação do livro – Explanation in Geography – Londres 1969. Teve boa aceitação entre os especialistas. 
Introdução
No livro, Condição Pós-Moderna, a partir de uma cronologia histórica das mudanças da sociedade, David Harvey responde a indagações sobre o entendimento do Pós-modernismo ao observar os vários momentos históricos. 
Cronologicamente Harvey, mostra conceitos e teorias de outros autores, incluindo suas próprias conclusões. Resume suas conclusões sobre o significado das descobertas e acrescenta seus argumentos. Utiliza inúmeras técnicas de coletas de dados, diagramas, fotografias, mapas, pinturas, tabelas, obras de arte,.... 
Ao citar os vários autores, consagrados nas diversas áreas de pesquisa, deixa transparecer o cuidado e o excesso de contribuições, com o intuito claro, de fundamentar a pesquisa e suas reflexões e possibilitar a rápida compreensão do Pós-moderno, não somente através de suas palavras, mas através de outros teóricos, de geógrafos, arquitetos, urbanistas, marxistas, líderes comunistas, historiadores, filósofos.

Análise do Título

Harvey faz uma análise abrangente das novas relações de produção da sociedade atual. Em sua análise, a mudança cultural de maior destaque no presente é aquela provocada pelo impacto da experiência humana com os novos conceitos de espaço e tempo. 
Harvey lembra que do século XVI ao XIX, a velocidade média das diligências e dos navios à vela era de 20 km/h. Em meados do século XIX, as locomotivas a vapor chegavam a 100 km/h. Com os aviões a jato a partir de meados do século XX, alcançamos 800 Km/h. Atualmente, com as telecomunicações, podemos trocar documentos e realizar reuniões com pessoas em outros lugares do mundo ao mesmo tempo. Segundo o autor, a compressão do espaço-tempo é uma componente essencial das novas formas de produção capitalista, em que o capital financeiro adquire autonomia com relação ao capital industrial e à própria governabilidade das nações. 
David Harvey enfoca também através de sua análise sobre o modernismo, destaca a não existência de um modernismo, ou de uma modernidade. Quando narra dentro de um enfoque histórico conta este processo em torno da modernidade e seu raciocínio 
A primeira fase corresponde à expansão do movimento iluminista, a partir do século XVIII. Neste período houve a perspectiva de que era possível dar um caráter universal a razão, sendo possível alcançarmos uma única resposta a qualquer pergunta. 
A seguir, os acontecimentos históricos ocorridos na França, resulta na revolução social de 1848. As idéias iluministas são questionadas, pois se pergunta se há somente uma única forma de pensar e conceber a realidade “.... A fixidez categórica do pensamento iluminista foi crescentemente contestada e terminou por ser substituída por uma ênfase em sistemas divergentes de representação.” (p. 36) 
Este processo atingiu o ápice no final do século XIX, quando, foi adotada na produção teórica, nas artes plásticas, manifestação políticos, etc. surgindo um novo perfil ou uma nova fase do modernismo. Estende-se até o período da Primeira Guerra Mundial, quando se percebia uma verdadeira alienação em relação aos fatos políticos. 
Na fase seguinte, no espaço entre as duas grandes guerras, a expressividade dos artistas mudou. Foram forçados pelos acontecimentos a explicitar seus compromissos políticos. Nesta nova fase, o “... o modernismo assumiu um perspectivismo e um relativismo múltiplos como sua epistemologia, para revelar o que ainda considerava a verdadeira natureza de uma realidade subjacente unificada, mas complexa.” (p. 37-38) Nesta fase houve uma grande ruptura com os ideários que até então orientavam o projeto modernista (o da razão universal, código de valores universais, etc.). 
A última fase, a do pós-Segunda Guerra Mundial, é marcada quando o modernismo “heróico” deu lugar ao modernismo “universal” que apresenta uma hegemonia e uma relação mais favorável com os centros de poder emergentes do pós-guerra.(p. 42) Neste contexto, o modernismo perdeu a sua característica de oposição ao reacionarismo e às forças tradicionais, com exceção de alguns campos, como o cinema. O desenvolvimento de projetos culturais passou a ser feito por um grupo reduzido e seleto que fez surgir movimentos anti-modernistas e contra culturais que desembocaram no pós-modernismo. (p. 44) 
David Harvey analisa ainda a pós-modernidade destacando perspectiva estética deste movimento, Faz inúmeras referências relacionadas à arquitetura, cinema, literatura, pintura, etc. de modo a realçar aspectos que no seu entender caracterizam o processo pós-moderno. Esclarece o movimento não se limita exclusivamente ao campo cultural. No planejamento urbano, por exemplo, é adotada a norma de se procurar “...estratégias ”pluralistas” e “orgânicas” para a abordagem do desenvolvimento urbano como uma “colagem” de espaços e misturas altamente diferenciados, em vez de perseguir planos grandiosos baseados no zoneamento funcional de atividades diferentes”. (p. 46) 
A maior característica do pós-modernismo segundo Harvey é a sua aceitação “...do efêmero, do fragmentário, do descontínuo e do caótico que formavam uma metade do conceito baudelairiano de modernidade.” (p. 49) 
De acordo com David Harvey, o pós-modernismo referencia a idéia onde se destaca o caos da vida moderna e a impossibilidade de se lidar com ela através da racionalidade. Não é possível então apresentar, em teoria, uma continuidade, uma integração entre os fatos. Há uma inexistência de uma ordem na vida. 
Diante da impossibilidade de uma visão unificada do mundo, o pragmatismo é a única filosofia de ação possível. Não há uma situação onde se possa engajar num projeto global diante do perfil multifacetado da vida. O pragmatismo torna-se a forma mais adequada para lidar com os diferentes aspectos da vida, e assim garantir um caráter não repressivo. “...A ação só pode ser concebida e decidida nos limites de algum determinismo local, de alguma comunidade interpretativa, e os seus sentidos tencionados e efeitos antecipados estão fadados a entrar em colapso quando retirados desses domínios isolados, mesmo quando coerentes com eles.” (p. 56). 
Um outro enfoque que Harvey destaca no pós-modernismo, diz respeito ao seu lado psicológico. Enquanto o modernismo dedica-se à busca do futuro, o pós-modernismo volta-se para as circunstâncias oriundas da fragmentação e pela instabilidade da vida, dificultando um planejamento para o futuro. 
Ao observar a relação do pós-modernismo com a cultura da vida diária, Harvey diz que são vários os elementos que interferem na mesma: iniciando pela degeneração da autoridade intelectual na década de 60; a chamada democratização do gosto numa diversidade de sub culturas; a televisão, que influencia a cultura com elementos aparentemente soltos e desarticulados a ponto de não se destacar qual a característica maior da situação cultural de uma determinada sociedade, etc...(p. 62-64).

“... Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional. A acumulação flexível envolve rápidas mudanças dos padrões do desenvolvimento desigual, movimento no emprego no chamado “setor de serviços”, bem como conjuntos industriais completamente novos em regiões até então subdesenvolvidas ... Ele também envolve um novo movimento que chamarei de “compressão do espaço-tempo” ...no mundo capitalista - os horizontes temporais da tomada de decisões privada e pública se estreitaram, enquanto a comunicação via satélite e a queda dos custos de transporte possibilitaram cada vez mais a difusão imediata dessas decisões num espaço cada vez mais amplo e variegado.” ( 1989, p. 140 ).

David Harvey observa este novo processo de acumulação flexível sob três perspectivas, a saber: a do trabalho, da produção e do Estado. 
Sobre o trabalho especifica que a flexibilização da acumulação permite aos empregadores um maior controle sobre o trabalho dado a sua característica de gerar desemprego. O mercado de trabalho sofre alterações de tal maneira que a sub contratação vem se tornando prática para os que perdem os seus empregos. Perdem igualmente os efeitos agregados como: cobertura de seguro, os direitos de pensão, os níveis salariais e a segurança no emprego.(p. 144) 
A mudança no mercado de trabalho foi evidente diante das transformações ocorridas na organização industrial....“A forma organizacional e a técnica gerencial apropriada à produção em massa padronizada em grandes volumes nem sempre eram convertidas com facilidade para o sistema de produção flexível - com sua ênfase na solução de problemas, nas respostas rápidas e, com freqüência, altamente especializadas.” (p. 146) 
Quanto à produção, as economias de escala foram substituídas por uma “...crescente capacidade de manufatura de uma variedade de bens e preços baixos em pequenos lotes. As economias de escopo derrotaram as economias de escala...” Esta produção flexível permitiu “... uma aceleração do ritmo de inovação do produto, ao lado da exploração de nichos de mercado altamente especializados e de pequena escala... O tempo de giro foi reduzido pelo uso de novas tecnologias produtivas (automação, robôs) e de novas formas organizacionais (como o sistema de gerenciamento de estoques “just-in-time”. (p. 148) 
Estas transformações colaboram para a formação do sistema capitalista através de um novo conteúdo no seu grau de coesão e centralização. Há ainda, dois processos que incidem neste novo significado do sistema: o caráter informacional da sociedade, onde as informações precisas e atualizadas tornam-se objeto de mercadoria e a reorganização do sistema financeiro como um movimento dual onde a formação de conglomerados corre em paralelo diante das novas formas de descentralização de atividades. (p. 150-152). 
Ao nível de Governo, verifica-se um gradual abandono do apoio ao Estado do bem-estar social e um ataque ao salário real e à organização sindical. A competição comercial internacional que se implantou cria a necessidade da presença da ação do Governo em favor de uma política orientada para o setor econômico e negócios, o que implica não só em um maior controle social, como também, em vantagens para facilitar as trocas comerciais das empresas e respectivo avanço tecnológico. (p. 156-158) 
Este novo Estado empreendedor fica então, em uma situação difícil, é “...chamado a regular as atividades do capital corporativo no interesse da nação e é forçado, ao mesmo tempo, também no interesse nacional, a criar um “bom clima de negócios” para atrair o capital financeiro transnacional e global e conter ( por meios distintos dos controles de câmbio ) a fuga de capital para pastagens mais verdes e mais lucrativas.”(p. 160 ) 
David Harvey destaca a tentativa de se fortalecer o Estado, lembrando que o processo de acumulação flexível faz surgir um ambiente inseguro, que faz surgir movimentos em favor de valores estáveis, como os representados pela família, a religião e o Estado. (p. 161-162) 
A partir da década de setenta Harvey diz que, vem sendo acentuada a compressão do tempo-espaço tendo em vista a transição do fordismo em favor da acumulação flexível. (p. 257) 
O grau de competitividade entre os agentes econômicos vem imprimindo em suas iniciativas um forte cuidado com as particularidades espaciais, pois a diminuição das barreiras espaciais possibilita uma maximização das vantagens proporcionadas por diferentes lugares e isto pode vir a ser decisivo em dadas concorrências. 
Este poder de exploração das diferenças espaciais torna-se fundamental na luta de classes, pois a capacidade de desmobilização de investimentos e reenvestimentos em outras áreas resultam numa mudança do cenário de entraves, que não mais ocorre nas fábricas de produção em massa . (p. 265) 
O controle do trabalho é central na organização espacial, Harvey destaca novas formas de organização que adquirem relevo com a acumulação mais flexível. Há um destaque para o papel das cidades mundiais, munidas de uma infra-estrutura sofisticada, como: teleporto, aeroporto internacional, diversos tipos de serviços financeiros, que correspondem a esta nova face extremamente seletiva do sistema econômico. A partir de alguns pontos presentes nas cidades, localizadas no globo, tem-se uma série de informações importantes para melhor operar os seus investimentos. (p. 266) 
Para compreender e assimilar a relação do espaço-tempo é necessário uma mudança nos nossos mapas mentais, nossas atitudes e instituições. Segundo Harvey, esta transformação não ocorre na mesma velocidade das transformações presentes no espaço pelo vetor técnico-científico de modo que há uma devassagem que pode trazer sérias conseqüências ao nível de decisões dos mais diversos tipos. (p. 275 -276) 

Considerações Finais

O espaço passou a ter novas formas de gestão, atuando em diferentes escalas, onde oi poder não é mais oriundo do Estado. Os espaços bélicos, racionais, característicos da Guerra Fria, dão lugar a espaços onde é permitida e válida, a competitividade, possibilidade de recursos, iniciativas, etc. 
As lutas não ocorrem mais entre nações, mas entre lugares. Assim, se a nível global, há um processo de coesão, fusão de empresas, formatação de blocos econômicos que induzem a idéia de uma unificação, nível local há um processo de fragmentação decorrente de disputas. Os lugares deixam de contar com esferas intermediárias de poder para fazer valerem os seus interesses e passam a contar com suas próprias condições para encrementar o seu crescimento. 
Este novo espaço, onde ocorre a polarização a nível global e pulverização a nível local, dificulta uma análise mais apurada da organização espacial. 
Levando em conta a observação de David Harvey localizada no prefácio: A Condição Pós-moderna, “...a de que a hegemonia cultural do pós-modernismo está perdendo força no Ocidente...”, Pode-se afirmar que há um novo substrato material, a partir da transformação do modelo fordista em favor da acumulação flexível que desorienta a teoria e análise da organização espacial até então adotados. 

O mundo entrou num processo acelerado... 
De transformações de forma visível e preocupante.








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