sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Um pouco sobre o povo Suábio

 Deustche Welle

Suábio: lacônico e diminutivo
Centro histórico de Stuttgart: dialeto 
cultivado até nas cidades

O suábio tem fama de pão-duro. Dizem que economiza até nas palavras, pois é monossilábico e gosta de falar tudo no diminutivo. O dialeto falado em Baden-Württemberg e em partes da Baviera é cultivado por grande parte da população, em todas as suas variantes regionais.

Mir schwätzet schwäbisch, dizem os suábios. E seu dialeto soa como língua padrão aos seus ouvidos. Eardäpfel ou Aidäpfel, Grombire ou Grumbire: pode até faltar batata, mas por falta de nomes para “batata“ é que eles não vão morrer na “terrinha“. Mas suábio nem sempre é suábio: o dialeto muda de figura de lugar para lugar e, quanto maior a distância entre as regiões, maior a diferença.

"Suabíssimo“: o mundo suábio

O suábio pertence ao dialeto alemânico, assim como o francônio. É falado não só na Suábia, mas também em certas regiões da Baviera. Seria um erro reduzir o dialeto suábio ao Estado de Baden-Württemberg.

As diferenças entre o suábio e o alemão padrão são enormes. O dialeto tem não apenas centenas de palavras próprias, como uma gramática e uma melodia peculiares. Metafonias como Ö e Ä praticamente não existem: König (“rei“) vira Keenich, schön (“bonito“) vira scheen. Ou seja, em vez de Ö se pronuncia E; e em vez de Ü se articula I: ein Stück Fleisch é ein Stick Fleisch.
De forma geral, a língua soa mais larga e clara. Isso se deve aos vários ditongos gerados na fala dialetal: die mutter ist müde (“a mãe está cansada“) é dia muader isch miad. Além disso, muitas vogais são nasalizadas, algo raro no alemão.

Semelhança com outros dialetos

Como no saxônio, consonantes surdas se tornam sonoras, ou seja, P, T e K viram B, D e G, respectivamente. E existem ainda mais semelhanças com outros dialetos. No suábio também falta o genitivo, geralmente substituído pelo dativo: das Haus meines Vaters (a casa do meu pai) vira Meim Vattr sei Haus (literalmente: “ao meu pai, a casa“).

As formas diminutivas são o que mais chamam atenção na “terrinha“ (Ländle): Mädchen (menina) é Mädle, Tür (porta) vira Türle. Até coisas pouco agradáveis ficam menos graves com o sufixo –LE: Er hat ein Schlägle gehabt (“ele teve um derramezinho“), o que soa um pouco menos grave do que se ele tivesse tido um derrame...

Suábio é difícil de aprender. Quem não cresceu na região dificilmente vai conseguir falar sem sotaque. Muita coisa simplesmente imitada é um erro e não corresponde à fala original. Por exemplo, quem imita tende a pronunciar SCH toda vez que aparece um S, a característica que chama mais atenção neste dialeto.

No entanto, as coisas não são tão simples assim. O lingüista Arno Ruoff, de Tübingen, explica que, na combinação ST, continua se pronunciando S em palavras onde originalmente existia uma vogal entre as duas consoantes: em alemão antigo, Obst (fruta) era Obest; por isso não se pronuncia Obscht, mas sim Obst.“ Mas nem os próprios suábios são perfeitos na pronúncia...

Médico ou operário, todo mundo fala suábio 


Suábio não é falado apenas pelas pessoas mais simples. Mesmo que cada vez mais suábios procurem falar a língua padrão (algo a que são obrigados nas escolas e universidades), sempre dá para ouvir o sotaque. O professor Hermann Bausinger, antigo diretor do Instituto Ludwig Uhland da Universidade de Tübingen, conta que foi dar uma conferência em Hamburgo e, ao encerrá-la, uma senhora veio até ele e disse: “Eu poderia continuar ouvindo o senhor falar durante horas e horas.“ Lisonjeado, ele já queria revidar, quando a mulher completou: “Adoro ouvir suábio“. 
Centro histórico de Tübingen, às margens do Neckar

Hoje o suábio já não pertence aos dialetos menos apreciados na Alemanha. Mas durante muito tempo as coisas eram diferentes. Os suábios sempre eram mencionados como os parvos do país. Isso, apesar de eles não terem nenhum motivo de se envergonhar de suas origens. As antigas dinastias de soberanos alemães como os Staufer, Welfen, Hohenzollern e Habsburger eram todos suábios. Isso contribuiu para que o dialeto influenciasse a língua alemã.

Hoje há diversas palavras que só são entendidas pelos suábios. Ou há termos que têm um outro significado em dialeto. Para os suábios, um Teppich (“tapete“) nunca é colocado no chão, a não ser quando se faz piquenique; afinal, nessa região Teppich significa “toalha de mesa“.

Schaffe schaffe, Häusle baue 

Igreja matriz de Ulm
 O suábio tem fama de ser pão-duro. Mas a verdade é que ele presta atenção no que gasta. Em outras palavras, é econômico. Um povinho muito amável, embora muitas vezes um pouco esquisito. 

Schaffe schaffe, Häusle baue (Trabalhar, trabalhar, para construir uma casa) – este é o ditado (formulado em dialeto) que os alemães mais associam aos suábios. Nessa região não se concentra apenas o maior número de bancos imobiliários, mas também o maior número de gente que economiza para construir uma casa. Jogar dinheiro pela janela pagando aluguel é uma coisa que os suábios não suportam. Para construir uma casa, vale tudo: deixar de fazer férias e economizar todo centavo. Isso simplesmente faz parte da cultura.

A Suábia já foi muito pobre. Sobretudo na região de Schwäbische Alb, havia muitos pequenos agricultores que viviam à beira da subsistência e aprenderam a lidar com seus recursos de forma cuidadosa.

Tudo passa pela boca

Mas há uma coisa que é mais importante que a casa própria: a comida. Em quase nenhum outro Estado alemão se come tanto quanto na terrinha dos suábios: “Vamos fugir para a Suábia. Deus do céu! Lá se encontram os melhores doces e tudo de melhor, em fartura... É lá que se assa o pão com manteiga e ovo“, já dizia Johann Wolfgang von Goethe, sem poupar elogios à cozinha suábia.
Também se diz que o suábio não é dos mais faladores. Em compensação, é um mestre da quintessência verbal. Consegue resumir frases inteiras em uma ou duas palavras, em casos extremos num mero Joh (“sim“) ou Noi (“não“). E existem sutilezas que só mesmo iniciados conseguem distinguir. Se alguém estiver à espera de que um suábio arregace as mangas, um Joh expressa uma clara anuência. Se ele responder Joh glei (“Sim, já-já“), pode demorar um bom tempo para ele se tornar ativo. Mas cuidado: Joh, joh significa mais ou menos lass mir doch mei Ruh (“vê se me deixa em paz!“). E com isso o suábio falou e disse.

Progresso e política de boa vizinhança

Os suábios também têm fama de inventivos. Afinal, quem não tem muito é obrigado a se virar com pouco. Mesmo que eles sejam meio desconfiados em relação a novidades, não são avessos ao progresso. O primeiro automóvel utilizável foi inventado por Gottlieb Daimler. Hoje a Mercedes é conhecida no mundo todo. O conglomerado automobilístico é sediado em Stuttgart, capital do Estado de Baden-Württemberg.  
Sede da Mercedes, em Stuttgart

Por fim, não se pode esquecer do “amor“ inato dos suábios pelos vizinhos badenenses. Desde 1952, ambos convivem num mesmo Estado, criado pela junção das duas regiões. Mas, mesmo assim, eles não se toleram. Os badenenses convictos lutaram durante anos pela criação do Estado independente de Baden. Mas num plebiscito realizado em 1970, 80 por cento dos badenenses optaram por permanecer junto com os suábios no Estado de Baden-Württemberg. A ambos só resta cultivar a política de boa vizinhança...

Um pequeno glossário do suábio:

A bissle – ein wenig – um pouco
Ade – Auf Wiedersehen – adeus
äbbes – etwas – algo
Au des noh ! – Auch das noch! – Só faltava essa!
Bräschdleng – Erdbeere – morango
Dag – Tag – dia
En Guada – Guten Appetit – Bom Apetite!
Gässle – kleiner Weg – viela
Gaul – Pferd – cavalo
Gschäft – Laden, Arbeit – loja, trabalho
Hudla – etwas ganz schnell machen – fazer algo rápido
Krumbiere – Kartoffel – batata
Mädle – Mädchen – menina
Mugg – Fliege – mosca
noi – nein – não
schaffa – arbeiten – trabalhar
schwätza – reden – falar
Viertele – ein Glas Wein – um copo de vinho
Xälz – Marmelade – geléia
Zwetschga – Pflaumen – ameixas (sm)
Ao ler este artigo, afirmamos que a identidade cultural deste povo, dentro da grande "colcha de retalhos" cultural que é o país da Alemanha, a partir de seu folclore, é o mesmo dos primeiros imigrantes que chegaram em Guarapuava - PR, na década de 50 do século XX - período pós guerra. Pode-se afirmar que tenham a mesma identidade cultural, mesmo que tenham vindo de regiões diferentes da Europa.
Aproveitamos para observar a grande diversidade cultural, nas muitas regiões, dentro do território da Alemanha atual, integrados pela História e em comum, a introdução histórica dos povos germânicos, descrito por Tácito.
(Clicar sobre - Livro Germânia - Tácito)




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