quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

O encanto medieval das montanhas do Harz

Deutsche Welle

Casas de madeira e ruas com paralelepípedos são típicas das charmosas cidades dessa região no norte da Alemanha, por onde já passaram Goethe e, mais recentemente, George Clooney com seu novo filme.
Quando uma amiga disse que as montanhas do Harz – a apenas duas horas de carro de Berlim – era semelhante à encantadora cidade medieval de Rothenburg ob der Tauber, eu imediatamente a coloquei no topo da minha lista de viagem.
Na minha infância, Rothenburg era um dos destinos favoritos de inverno da minha família. A atmosfera de contos de fadas, as guloseimas como as Schneeballen, doces e fritas, e as vitrines decoradas da Käthe Wohlfahrt transformaram a cidade numa espécie de "vilarejo de Natal" para mim e minha irmã.
Quando criança, eu imaginava a oficina do Papai Noel numa das pequenas ruas de paralelepípedos de Rothenburg. Depois de grande, porém, eu aprendi que era mais provável encontrar grandes grupos de turistas por ali. Assim, fiquei animada com a ideia de uma alternativa que, melhor ainda, estava mais perto de casa.
Quando tive um fim de semana livre, peguei o carro com meu namorado e seguimos para Wernigerode, uma das principais cidades da região do Harz, esperando escapar do inverno cinza de Berlim.
Ao chegar à cidade, numa noite fria de sexta-feira, vimos que as casas de estilo gótico, com suas fachadas de madeira esculpidas e as encostas cheias de castelos, eram mesmo muito charmosas – tanto que o ator George Clooney usou esta área como locação para gravar seu filme Caçadores de obras-primas.
As pequenas e estreitas ruas de Wernigerode são revestidas de paralelepípedos e, de vez em quando, seus moradores aparecem vestidos em trajes tradicionais. Com uma das maiores coleções de prédios preservados do período anterior ao século 16, muitas das cidades vizinhas, como Goslar e Quedlinburg, foram incluídas na lista de Patrimônio Mundial da Unesco.
Comida
Passeando pelas ruas pitorescas de Wernigerode na manhã seguinte, eu fui imediatamente transportada para a minha infância em Rothenburg. As ruelas e suas estruturas se apoiavam umas nas outras e, enquanto as lojas modernas preenchiam os prédios antigos, caminhar por ali parecia uma viagem no tempo. Em pleno janeiro, baixa temporada de visitação de turistas, não havia ônibus de passeios e muitos comerciantes locais ficaram surpresos com o nosso inglês.
Minha dica de passear pelo Harz veio da escritora Ursula Heinzelmann, especialista em queijos, que também recomendou que nós procurássemos o Harzer Käse, um tipo tradicional e antigo. Feito das sobras de leite azedo da produção de manteiga, esse queijo tem cheiro e sabor fortes e é popular por ter pouca gordura e muita proteína.

Nós encontramos o Harzer Käse – disponível tanto numa variedade dura e envelhecida como também numa versão mais macia e com uma textura mais "encerada" – numa loja especializada da Breite Strasse, rua na principal área comercial de Wernigerode. Em restaurantes, ele é servido mit schmaltz– com banha de porco misturada e espalhada sobre um pão de centeio – e mit Musik, um prato clássico que combina queijo em cubos com molho de azeite, vinagre, cebolas e pimenta.
Um coração eterno
Depois de uma caminhada pela cidade, subimos a encosta de Wernigerode até o castelo, uma antiga fortaleza e estalagem para caçadores. A região prosperou no século 10 graças, em parte, à exploração de prata, cobre e estanho – descobertos nas montanhas próximas. O rei Henrique 1º e seus descendentes também tinham postos na área do Harz.
O castelo em Wernigerode tem quartos com mobília ornamentada, uma exibição rotativa que atualmente mostra a história de leques femininos, e uma vista fantástica. Em Quedlinburg – uma cidade vizinha que foi governada por mulheres durante 800 anos – a abadia com aspecto de castelo é o lugar onde Henrique 1º está enterrado. O coração de outro monarca, Henrique 3º, está dentro de um sarcófago em Goslar, a cidade mais popular da região, onde também fica o Palácio Imperial, construído no século 11.
Embora essas residências oficiais ofereçam uma chance de contato com parte da história da Alemanha, apenas uma hora é necessária para percorrer suas instalações por conta de seu tamanho reduzido – em comparação ao Palácio de Sanssouci, em Potsdam, por exemplo.
Nos passos de Goethe
Viajantes aventureiros, amantes da história e fanáticos por literatura também se encantarão com o Brocken, um pico de 1.141 metros nas montanhas do Harz. Mesmo num dia nebuloso de inverno, a caminhada de duas horas foi incrivelmente bonita, com uma floresta densa, rios sinuosos e vistas de neve.
O Castelo de Wernigerode
O local é o cenário de uma famosa cena do Fausto, de Goethe, quando o diabólico Mefistófeles leva o protagonista para as montanhas para juntar-se à festa das bruxas. A região tem uma tradição de folclore e contos – algumas das histórias dos irmãos Grimm também a usam como cenário – e souvenires de bruxas, demônios e contos de fadas são muito populares.
O festival Walpurgis, realizado na primavera, é uma grande celebração, com fantasias completas, fogos de artifício e a apresentação de uma ópera-rock inspirada no Fausto.
Na região do Brocken também ficava a antiga fronteira entre as Alemanhas Oriental e Ocidental. Lá costumava funcionar um dos quartéis-generais de vigilância soviética. Além da impressionante vista do topo, também há uma torre de transmissão, antigamente usada para coletar informações sobre o Ocidente. Para muitos alemães, as montanhas agora simbolizam a reunificação do país – uma pedra tem a inscrição Der Brocken wieder frei (O Brocken livre de novo).
Depois de chegar ao topo do Brocken, um trem antigo leva os turistas de volta para a cidade. Aqueles que preferem fazer um exercício ou que querem economizar os 21 euros da passagem podem descer a pé. O Harzer Käse, acompanhado de um pouco de salsicha e aguardente, comprados numa loja especializada, são uma boa opção de lanche para a viagem de volta.
Trem antigo traz os turistas de volta para a cidade
Cervejas
Depois de um longo dia de passeios e caminhadas, uma cerveja gelada é uma boa pedida. A cerveja Gose River, cujo nome foi emprestado de um rio de Goslar, tem um processo de fermentação semelhante à da Berliner Weisse, com coentro e sal entre seus ingredientes.
Por conta desses elementos, ela não segue os rigorosos padrões de pureza das cervejas alemãs. A Gose, no entanto, é permitida porque é considerada uma especialidade regional.
Muitos dos restaurantes e bares de Goslar servem a cerveja tanto em variações claras como escuras – ambas uma maneira refrescante de terminar este passeio e, pelo menos para minhas sensibilidades adultas, uma especialidade local melhor que as açucaradas Schneeballen.
  • Data 25.02.2014
  • Autoria Katherine Sacks (rm)
  • Edição Rafael Plaisant





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