terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Fritz Müller - Final do Século XIX

Professor  Naturalista
Fritz Müller.
Encontramos publicado na revista Blumenau em Cadernos de 1965 (Tomo VII -  N°1) um texto muito interessante assinado pelo Presidente da Província de Santa Catarina - período de 1883 a 1884 - Luiz Francisco da Gama Rosa, que foi publicado nos jornais da época, sobre o naturalista e professor alemão  - Fritz Müller, o qual conheceu pessoalmente. Não sabíamos que Fritz Müller residiu, com sua família, na Praia de Fora, em Desterro.

Mas antes...
Vamos conhecer um pouco do imigrante alemão - Fritz Müller 
Erfurt - Idade Média.
Seu nome era Johann Friedrich Theodor Müller e nasceu  na casa paroquial de  Windischolzhausen em Erfurt, no dia 31 de março de 1822. Seu avô e bisavô foram pastores. Seu pai, Johnannes Friedrich Müller foi pastor luterano. Erfut é a capital do Estado da Turíngia - Alemanha e não tem nada a ver com a região dos prussianos, como menciona o texto, logo  no final da postagem. Com seis anos de idade mudou-se, com seus pais para a cidade de Mühlberg.
 
Em 1835, ingressou no ginásio de Erfurt e viveu com seu avô materno Johannes Bartholomaeus Trommsdorff,  conhecido químico. O que o influenciou para a mudança do estudo de farmácia para o estudo de química. Foi aprendiz desde quando tinha 13 anos de idade até quando terminou seus estudos do colegial. Com 18 anos de idade foi trabalhar em uma farmácia, na cidade de Naumburg an der Sale, em 1840 - Não apreciava o trabalho de atendente de farmácia. No ano seguinte entrou na Universidade de Berlin e cursou  Matemática e História Natural. Em 1842, Foi duas vezes à Greifswald. Em 1843, conheceu o biológo Johnnes Müller e ficou impressionado com a biologia e há quem diga que neste momento, decidiu estudar biologia no exterior. Em 1844, de acordo com sua Dissertação: "De hirudinibus circa Berolinun hucusque observatis" foi graduado Doutor pela Faculdade de Filosofia. Foi aluno dos zoólogos  Lichtenstein e  Erichson e dos botânicos:  Kunth de Berlim e Hornbusch de Greifswald. Em pouco tempo, que terminou esta etapa de estudos, submeteu-se aos exames de professor superior da Prússia.
Mas em 1845,  resolveu regressar  a Greifswald para cursar medicina. Tinha planos de formar-se médico e exercer a profissão em um navio para oportunizar viagens e conhecer outros países, criando a oportunidade  de pesquisas, principalmente, países dos trópicos. Seus principais colegas de classe foram seu irmão Hermann, os futuros famosos zoólogos Max Schulze e Oskar Schmidt, como também o escritor de Ciências Físicas e Naturais -  Anton Karsch e o futuro diretor do Ginásio Real de Berlim, Franz Wenzlaff.
Durante algum tempo sondou a possibilidade de procurar na Prússia, um cargo como professor superior. Sua honestidade, não permitiu que seguisse com o intento. Era contrário à sua filosofia prestar juramento, como funcionário do Estado da Prússia, com o juramento: "Que Deus esteja do meu lado, em nome de Jesus Cristo..." . Desta forma solicitou ao Ministério que o liberassem deste juramento com um simples aperto de mão, que lhe foi negado.
Sem alternativas, aceitou um cargo de professor domiciliar em Neuvorpommernn - Pomerania Ocidental.
Foi filiado do grupo liderado pelo Gustav Adolf Wislicenus, em Halle. Este grupo condenava a tutela espiritual feita pela igreja protestante e sua vinculação ao Estado Absolutista. 
Lembramos que também fizeram parte deste grupo, os iluministas luteranos, católicos e os descontentes com o Estado Absolutista.
Entre 1849 e 1852, portanto, Fritz Müller trabalhou como professor particular na Pomerânia Ocidental, onde conheceu sua futura esposa. Dizem que mudou-se, devido à perseguição política relacionada à Revolução de 1848.
Em 19 de maio 1852,  Fritz Müller, sua esposa e sua filha de apenas um ano de idade, partem de Hamburgo para o Brasil. Também embarcaram, outros alemães, descontentes com a Revolução, inclusive seu irmão Hermann. Müller nunca mais retornou para Alemanha.
Chegaram na costa brasileira no dia 19 de julho e chegou na Colônia Blumenau, no dia 22 de agosto de 1852.
Os irmãos Müller foram os primeiros colonos a comprarem lotes coloniais de Hermann Blumenau no Vale do Garcia
Pagaram um valor muito mais alto que qualquer outro comprado na época.
Para você entender esta história sugerimos a leitura da postagem (Clicando  sobre) Hermana e Fritz.

Do livro - História de Blumenau de José Ferreira da Silva - 2°ed. Blumenau: Fundação Casa Dr. Blumenau - 1988. - 299p.
Logo que chegaram no bairro Garcia, abriram uma roça e ele construiu sua casa de palmito.
Müller teve 10 filhos. Seu único filho homem faleceu horas após seu nascimento. Em 1855Hermann Blumenau, fundador da Colônia Blumenau, entra em contato com o Presidente da Província - João José Coutinho e oportunamente recomenda os irmãos Müller, como professores, sabendo da abertura de um novo colégio que o Presidente da Província pretendia abrir. Contam que o fundador da Colônia Blumenau temia o "ateísmo" e as idéias revolucionárias (A frente do tempo da maioria) dos irmãos Müller e sua influencia "negativa" entre os colonos da jovem colônia. Hermann Blumenau, sempre muito objetivo e pontual, através de suas ações. Como diz o ditado popular,  "Não dava ponto sem nó!" Sua vontade era soberana. Lembramos de como viajou para o Brasil, pela primeira vez, como funcionário do governo alemão - Fiscal da Sociedade da Imigração - para averiguar as condições de seus compatriotas no Brasil. Oportunizou a viagem para organizar seu negócio de colonização, matematicamente estudado, desde seu encontro com o Diplomata brasileiro na Prússia, em Londres. Através do uso do poder de seu cargo, fez relatórios positivos sobre os imigrantes, seus conterrâneos, ao governo alemão, contrariando outras narrativas, na mesma época,  sobre as colônias alemãs no Brasil. Com isto, Hermann Blumenau, também, conseguiu facilidades para seu empreendimento - criar uma colônia no Sul do Brasil. Em especial, neste momento, através de sua influencia, "retirou"  Fritz Müller da terra que escolheu para morar com a família, a partir de censura ideológica religiosa.
A família Müller partiu para a capital da Província - Nossa Senhora do Desterro e foi morar na Praia de Fora - atual Beira Mar Norte. 
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Prosseguindo...
Nossa Senhora do Desterro - época do Professor Fritz Müller.
De 1957 até 1864, Fritz Müller foi o professor de matemática no Colégio Liceo. Também lecionava aulas de ciências naturais como: Zoologia, Botânica e Química. Isto foi por pouco tempoPara ocupar o cargo de Professor, se naturalizou brasileiro, em 9 de agosto de 1856. 
Em 1859, João José Coutinho - Presidente da Província, destinou uma quantia em dinheiro, para que o Fritz Müller fosse a Europa adquirir equipamentos para montar um pequeno laboratório de Física e Química. Além deste laboratório, o Colégio também passou a ter um jardim botânico que também foi coordenado pelo professor Müller. Em 1860,  João José Coutinho, deixa o cargo, o qual passa a ser ocupado por Araújo Brusque. Como habitualmente acontece, a partir da política nacional, há muito tempo, o novo presidente provincial fecha o laboratório e vende os instrumentos. O fechamento do laboratório aconteceu mediante às pressões de lideranças comunitárias locais - comerciantes e políticos radicais católicos - que temiam o grande número de luteranos lecionando no Colégio Liceo, como por exemplo, os senhores: Ricardo Becker, Carlos Parucher, Bukart e, de formação familiar (filho de pastor), o Professor Fritz Müller. Não aceitavam o colégio, mantido pelo governo da Província de Santa Catarina, sob estas condições. 


Em 1864, o colégio foi oficialmente fechado. O Professor Fritz Müller e outros dois professores continuaram dando aula em uma sala alugada pelo governo da Província, até o ano de 1867, quando foram oficialmente demitidos. Tentaram por vias legais reaverem seus postos e mesmo tentaram lecionar no católico  Colégio Santíssimo Salvador, mantido pelos jesuítas italianos, sem êxito. Ao reivindicar o seu cargo de professor, que tinha adquirido por direito, através de concurso público e com mais de 4 anos de trabalho em sala de aula, ficou determinado que o Professor Fritz Müller não ocuparia mais o cargo de professor, mas de Naturalista da Província. Tinha aproximadamente 45 anos de idade.
Naturalista Fritz Müller.
Neste tempo, o Naturalista Fritz Müller trocou correspondências com cientistas de todo o mundo. Em 1864, publicou "Für Darwin", o que lhe deu reconhecimento internacional na área da pesquisa e em 1869, é citado na publicação de Charles Darwin - A origem das espécies - Neste trabalho, Fritz Müller contribui com argumentos e comprovações - a partir de um estudo empírico de crustáceos na ilha de Santa Catarina. Foi o primeiro cientista a usar métodos matemáticos para concluir e apresentar comprovações científicas com relação a seleção natural. Darwin o chamava de "o príncipe dos observadores". O naturalista Fritz Müller publicou na Europa mais de 248 artigos científicos, apresentando a flora e a fauna de Santa Catarina, no cenário da Europa.
O Professor e Naturalista Fritz Müller recebeu dois títulos de Doutor Honoris Causa das Universidades Alemã de Bonn e de Tübingen. Retornando a Blumenau, foi Juiz de paz e Presidente da Câmara de Vereadores. Faleceu com 75 anos, na cidade que escolheu morar e formar sua família - Blumenau.
Blumenau - Rua XV de Novembro.
Ducado de Grosswinnisgstedt.
Antes de Embarcar para o Brasil...

Fritz ingressou no Ginásio de Erfurt com 13 anos de idade, no ano de 1835 (bem depois que Hermann Blumenau) e residiu com seu avô materno, Johannes Bartholomaeus Trommsdorff, renomado farmacêutico e químico, que teve muita influência nos estudos e formação do jovem.

Um pouco sobre Johannes Bartholomaeus Trommsdorff
Trommsdorff, avô materno de Fritz Müller (e filho do farmacêutico, médico e professor de Medicina, Wilhelm Bernhard Trommsdorff - 1738 - 1782), começou a estudar química na WH Buchholz em Weimar no ano de 1784 e terminou em 1788. Depois esteve na Szczecin e Stargard. Em 1790 entrou no curso de Doutorado e em 1795 tornou-se professor na Escola de Medicina de Erfurt. Na Universidade de Erfurt ministrou palestras sobre Química farmacêutica, mineralogia, História da Química e Química Geral. É mérito de Trommsdorff a formação moderna dos Farmacêuticos, que sempre buscou elevar o nível científico da farmácia prática. Em 1795, ele fundou Pharmaceutische físico - químico - internato para rapazes, o primeiro de uma série e Institutos de farmacêuticos na Alemanha, onde se formaram inúmeros farmacêuticos em física, química e farmácia. Trommsdorff foi o pioneiro na formação acadêmica de farmácia. Quando teve que se afastar do Instituto,  em 1828, por motivos de saúde, tinha formado mais de 300 profissionais. O Avô materno de  Fritz Müller também contribuiu com aspectos práticos da profissão de farmácia e dentro da indústria Farmacêutica. 
Foi co-fundador da Erfurt Farmacêutico Kränzchens, em 1811, quando junto com seu amigo Christian Friedrich Bucholz angariou doações para uma instituição de apoio aos "Assistentes farmacêuticos abandonados". Em 1813 fundou uma fábrica de produtos químicos-farmacêuticos em Teuditz. Em 1822 foi Diretor da Academia de Ciências Erfurt e em 1827, co fundador da Associação Comercial Erfurt e do Gotha Seguro de vida. De fato deve ter tido muita influência sobre o jovem futuro pesquisador, professor e naturalista Fritz Müller.
O avô  materno de Fritz Müller e o Instituto em Erfurt  fundado por ele, para formação de farmacêuticos e químicos

Fritz, desde seus 13 anos de idade (1835) até o término de seus estudos no colegial, foi aprendiz. Seu avô - Trommsdorff, faleceu em 1837. Em 1840, quando Fritz tinha 18 anos de idade foi trabalhar em uma farmácia na cidade de Naumburg an der Sale, e não gostou de trabalhar em um balcão de Farmácia.
Naumburg an der Sale.























Em 1841, com 19 anos da idadeJohannes Friedrich Theodor Müller ingressou na Universidade de Berlin, para cursar Matemática e História Natural. 
Em janeiro do ano seguinte - 1842Hermann Bruno Otto Blumenau, então com 23 anos, foi convidado a trabalhar em Erfurt, na fábrica de produtos químicos da família Tromsdorff, por Christian Wilhelm Hermann Tromsdorff, filho de Johann Bartholomaeus Trommsdorff e de Martha Elisabetha Johanna Hover - avós maternos de Fritz, que nesta época estava estudando em Berlin.
Na cidade natal de Fritz Müller, agora trabalhando, em 1842,  Hermann Blumenau conhece o Alexander Von Humbolt, e também conhece  Müller. Tinham em comum o gosto pela profissão.
Erfurt - Kaiserplatz Reiterstandtbild Keiser Wilhelm I.
Em 1843, Müller conheceu o biólogo  Johnnes Müller e ficou impressionado com seu trabalho e obra. Há quem diga que neste momento decidiu estudar biologia no exterior.
Johnnes Müller nasceu em Koblenz – Foi um privatdozent de fisiologia e anatomia comparativa em Bonn – 1824, professor ordinário em 1830 e em 1833 foi para a Universidade Humbolt de Berlin até partir.
No ano de 1844,  Fritz Müller conquistou o título de Doutor, graduando-se na Universidade de Berlin. Defendeu a tese com o tema: "De hirudinibus circa Berolinun hucusque observatis". Logo a seguir submeteu-se à exames de Professor Superior, na Prússia. Mas não deu prosseguimento a tentativa.
Universidade de Berlin.
Müller tinha planos de trabalhar na Prússia. Durante algum tempo, sondou a possibilidade de procurar, na Prússia, um cargo como professor superior, porém sua conduta impediu que seguisse com seu plano. Era contrário à prática de prestar juramento, como funcionário do Estado da Prússia, com o seguinte teor: Que Deus esteja do meu lado, em nome de Jesus Cristo. Pediu ao ministério que o liberassem desse juramento, substituindo-o por um simples aperto de mão, o que lhe foi negado.
Sem opções, o Fritz Müller aceitou um cargo de professor domiciliar em Neuvorpommernn -Pomerania Ocidental. 
Em 1845Fritz Müller retornou a Erfurt, como professor ginasial das cadeiras de Álgebra História Natural. Sua tentativa de ser professor na Prússia não deu certo, por diferenças filosóficas e políticas. Neste mesmo ano, iniciou Medicina em Greifswald, e não concluiu o curso por conta, também, do juramento que teria que fazer em nome de Deus. Ateu convicto, não concordava com o juramento. Tentou mudar as palavras do juramento, mas os responsáveis não concordaram. Preferiu, então, abandonar o curso.
Nesta época, Müller era filiado à "Comunidade Livre" formada e coordenada por Gustav Adolf Wislicenus - Grupo que não aceitava a tutela espiritual feita pela Igreja Luterana e sua vinculação ao Estado absolutista.
Sua ideia era formar-se médico e exercer sua profissão em um navio - juntando o útil ao agradável - através de seu trabalho à bordo, conhecer outros países, principalmente os exóticos, como o Brasil - oportunidade de pesquisas inéditas.
Enquanto Fritz Müller fazia a faculdade teve como principais colegas de turma: seu irmão - Hermann Müller, Max Schulze, Oskar Schmidt, o autor da publicação: Ciências Físicas e Naturais - Anton Karsch e o futuro diretor do Ginásio Real de Berlin - Franz Wenslaff.
 Hermann Müller.
Hermann Müller permaneceu morando na Europa. Que partiu, posteriormente junto com o Fritz Müller para o Brasil, foi o August Müller. Os dois irmãos de Fritz Müller eram mais novos que ele.

August Müller nasceu em 1826, na cidade de Windschholzhausen - em Turingrastendo e faleceu em Blumenau no dia 3 de maio de 1904. Hermann Müller e que estudou com o Fritz Müller em Greifswald e trocava assídua correspondência com o irmão mais velho nasceu em 1829 e morreu na Suíça, em 1883, com a pouca idade de 54 anos.
Entre 1849 e 1852, Fritz Müller trabalhou como professor particular na Pomerânia Ocidental, onde conheceu sua futura esposa. Mudou-se de Pomerânia, por sofrer perseguições políticas relacionada à Revolução de 1848 - Guerras germânicas de unificação.
Hermann Blumenau convidou Fritz Müller para emigrar para sua Colônia Blumenau.
Colônia Blumenau.
Fritz Müller.
No dia 19 de maio de 1852, Fritz Müller, esposa, sua filha mais velha e seu irmão, embarcam em Hamburgo para o Brasil, para o Vale do Itajaí - Colônia Blumenau. Não retornou mais a residir na Alemanha.
A família Müller chegou à costa brasileira no dia 19 de julho e na Colônia Blumenau no dia 22 de agosto de 1852. 
Curioso nesta história é que o negociante de lotes da Colônia Blumenau - Hermann Blumenau, vendeu aos dois irmãos Müller, os lotes com valores muito mais caros que aqueles vendidos aos demais colonos. Mesmo assim, os irmãos Müller adquirem os primeiros lotes coloniais no Vale do Garcia.
Do livro - História de Blumenau de José Ferreira da Silva - 2°ed. Blumenau: Fundação Casa Dr. Blumenau - 1988. - 299p.
Fritz Müller era autêntico e não escondia sua opção religiosa  - ateu convicto - de sua nova comunidade. Tornara-se um homem da ciência, observador e tinha na paisagem natural da recente colônia, um universo de pesquisa a desenvolver. Sua postura aberta e franca e suas palavras emitidas aos demais, não deixavam o Hermann Blumenau muito à vontade. O filho do Pastor luterano, na Alemanha desabonava a prática religiosa do luterano quase fanático, filho do guarda florestal na Alemanha. Criou-se uma situação de constrangimentoLogo que Fritz Müller e família chegaram em suas terras no Garcia, abriu uma roça e construiu uma casa temporária de palmito.
Em 1855, Hermann Blumenau entra em contato com o Presidente da Província - N. S. do Desterro - João Coutinho e oportunamente recomenda os irmãos Müller como professores de um novo colégio que o Presidente da Província pretendia abrir. O fundador da Colônia Blumenau temia que as idéias de Fritz Müller e também de seu irmão, influenciasse de maneira negativa os demais  colonos de sua colônia.
Colônia Blumenau.




























A família Müller hesitou e negou a partir para a Capital da Província, em um primeiro momento. Hermann Blumenau, habilmente mostrou as vantagens que teria se morassem em Desterro. Insistiu tanto que chegou um momento que Fritz Müller concordou, apesar do apego que já tinha com sua nova residência.
A família Müller partiu para Nossa Senhora do Desterro e foi residir na Praia de Fora - atual Beira Mar Norte.
De 1857 até 1864, Fritz Müller foi professor de Matemática no Colégio Liceo - Desterro. Também lecionou aulas de Ciências Naturais como: Zoologia, Botânica e Química. Para ocupar o cargo de Professor se naturalizou brasileiro em 9 de agosto de 1856. Hermann Blumenau, permanecia com a nacionalidade alemã.

Desterro - Época do Professor Fritz Müller.
Em 1864, o Colégio Liceo foi fechado por motivos políticos. O professor Fritz Müller e outros dois professores continuaram dando aula em uma sala alugada pelo governo da Província, até o ano de 1867, quando foram oficialmente demitidos. O novo governo, não admitia que somente professores alemães lecionassem. Via isto como perigoso à segurança nacional. Tentaram por vias legais reaverem seus postos e mesmo tentaram lecionar no colégio católico Santíssimo Salvador, mantido pelos jesuítas italianos. Não tiveram êxito. Fritz Müller tinha a família maior. Após muita conversa e ciente de seus direitos trabalhistas, uma vez que era professor através de concurso público e com mais de 4 anos de trabalho em sala de aula, ficou acertado nas estâncias oficiais que o professor Fritz Müller ocuparia doravante o cargo de Naturalista da Província. Tinha então aproximadamente 45 anos de idade.
Foi neste recorte de tempo que trocou informações científicas e resultados de pesquisas com cientistas do mundo. Em 1864 publicou "Fur Darwin". Esta publicação lhe deu reconhecimento internacional na área da pesquisa e em 1869, é citado na publicação de Charles Darwin A Origem das Espécies, trabalho que Fritz Müller contribuiu com argumentos e comprovações a partir de estudo empírico de crustáceos na ilha de Santa Catarina.
Fritz Müller publicou na Europa mais de 248 artigos científicos, apresentando a flora e a fauna de Santa Catarina no cenário europeu.
Fritz Müller recebeu dois Títulos de Doutor Honoris Causa das Universidades alemã de Bonn e de Tübingen.  quando retornou para lote colonial de Blumenau - cidade a qual amava - ainda foi Juiz de Paz e Presidente da Câmara de Vereadores
Faleceu com 75 anos - no ano de 1897, na cidade que escolheu para morar com sua família -  Blumenau.








Curiosidades:
Blumenau em Cadernos - 1958 - Tomo 1 - N°7 - Maio
 Fritz Müller - Sempre autêntico - muitas vezes incompreendido - pois estava a frente de seu tempo.
Ao contrário de Hermann Blumenau, fundador de Blumenau que retornou para a Alemanha definitivamente no dia 15 de agosto de 1884. Viveu em Braunschweig - Baixa Saxônia, com a esposa - Bertha Blumenau com quem casara em 1867 - Fritz Müller escolheu sua Colônia para morar e da qual fora obrigado a se exilar por algumas décadas porque não comungava da mesma religião do fundador.


Blumenau em Cadernos - Agosto de 1958.
Em outubro deste mesmo ano, Hermann Blumenau é nomeado agente oficial da Colonização brasileira em Hamburgo. Sempre diplomático e parte de todos os lados.
Fritz Müller.
Naturalista Fritz Müller.
Fritz Müller recebeu e continua recebendo inúmeras Homenagens. Sua obra é imensurável, independentemente de sua opção religiosa. Mas não foi compreendido no seu tempo, na cidade que escolheu morar.



Em Blumenau - situado na Rua São Paulo - Centro
Encontramos, relendo as revistas "Blumenau em Cadernos" este artigo, do então jovem Viegas Fernandes da Costa sobre  a estada do Fritz Müller em Desterro. O artigo foi publicado no periódico Blumenau em Cadernos  - Tomo XXXVII - Fevereiro de 1996 - N° 2, nas páginas 53 e 54.

O Artigo
A ida de Fritz Müller ao Liceu Provincial em Desterro
Viegas Fernandes da Costa 
No dia 21 do mês de agosto do ano de 1852, chega à sede da Colônia Blumenau o célebre naturalista Dr. Fritz Müller (Johann Friedrich Theodor Müller) e sua família, constituída pela esposa Carolina e a filha Johanna de alguns meses de vida apenas, juntamente com seu irmão Augusto Müller, jardineiro formado no Jardim Botânico de Berlim. A chegada de mais esses colonos (na verdade Fritz Müller não era um simples colono, mas sim, Doutor em Filosofia, médico e famoso naturalista devido aos seus estudos sobre moluscos na Alemanha) causou profunda alegria ao fundador da Colônia, Dr. Hermann Bruno Otto Blumenau. Este já conhecia àquele e sentia-se imensamente honrado em recebê-lo no seio de seu estabelecimento colonial. Tão logo chegados, os dois novos e ilustres habitantes da colônia recém fundada, puseram-se a trabalhar ardorosamente na construção de ranchos de ripa que, por algum tempo, seriam as suas moradas. Já estabelecidos no núcleo do povoado, Dr. Blumenau passou a conhecer um pouco melhor a pessoa do sábio naturalista, e preocupou-se de sobremaneira com a irreligiosidade do mesmo. Era de sua intenção edificar uma colônia profundamente religiosa e a presença do naturalista na sede era prejudicial àquele intento. Porém, ficou Hermann Blumenau um pouco mais tranqüilo quando Fritz Müller mudou-se para uma região mais afastada da sede da Colônia (o lote de número 1, de 49,5 hectares na região do Vorstadt), onde a influência sobre os colonos já não seria mais tão intensa. Em carta datada de 1855, Hermann Blumenau escreve ao tio de “Fritz” o senhor Hermann Tromsdorff, que “é uma pena que tão sábio homem fique sepultado nestas matas desertas.” 
Sabendo o Dr. Blumenau que o presidente da província catarinense, João José Coutinho, recém havia criado o Liceu Provincial (1856), pediu a este que aceitasse o sábio naturalista como professor do mesmo. Desta maneira atingiria seu objetivo de manter uma profunda religiosidade em sua colônia, e ao mesmo tempo, presentear o naturalista com tamanha honra em reconhecimento ao seu trabalho. Coutinho aceitou a indicação de Blumenau e ofereceu ao sábio a cadeira de matemática.. De princípio, Fritz Müller não quis aceitar a oferta. Afinal, mal havia ele se estabelecido com a família na colônia e já teria que abandonar tudo para se transferir a Desterro. Só depois de muita insistência do Dr. Blumenau, Fritz Müller aceitou ir conversar pessoalmente com o Presidente Coutinho. Por muitos trechos do litoral catarinense, em direção à capital, efetuou sua viagem caminhando. Durante estas caminhadas ia observando a grande quantidade de moluscos e outros seres marinhos que os vagalhões atiravam à praia. Observando esses animais lembrou-se “Fritz” dos estudos que havia desenvolvido sobre moluscos quando ainda estava na Europa. Em conversa com o Presidente Coutinho, “Fritz” acabou aceitando o cargo de lente de matemática e negando o de diretor do novo educandário, que ficou a cargo do jurista Becker. O Liceu começou a funcionar em 1857 com as cadeiras de Frances, Inglês, Latim e Matemática. Com o tempo foram abertas vagas para outras disciplinas e, entre elas, a de Ciências Naturais de acordo com sugestão do próprio naturalista, e que também foi o catedrático de mais essa cadeira. Foi também de “Fritz” a idéia de se criar um Jardim Botânico dentro da chácara do próprio Liceu Provincial: idéia essa imediatamente acatada pelo presidente provincial. Durante onze anos em que viveu e lecionou em Desterro, “Fritz” dividia seu tempo entre aulas no liceu (algumas poucas horas por dia), suas leituras científicas e suas excursões pelo litoral da ilha de Santa Catarina, descalço e vestido como pescador. Nessas excursões pelo litoral catarinense, buscava encontrar moluscos, crustáceos e outros seres marinhos que pudessem investigar (inclusive, falha seria se não dissesse, em 1884, já a serviço do Museu Nacional do Rio de Janeiro ocupando a função de Naturalista Viajante, Fritz Müller encontrou algo extraordinário! Descobriu ele um novo espécime da fauna catarinense: um animal cujo gênero é BALANOGLOSSUS, do filo Chordata: um Enteropneusta. Esse espécime só foi novamente encontrado em 1959 pelo Prof. Wladimir Bessard. O período compreendido entre 1856-1867 foi marcado pela grande quantidade de trabalhos científicos elaborados pó “Fritz” na área da botânica e zoologia, as suas duas grandes paixões. Em 1864 publica o livro “Pró Darwin” na língua alemã, e que é traduzido para o inglês em 1869. Nesse livro Fritz Müller desenvolve estudos sobre os crustáceos e moluscos, seu desenvolvimento e, dessa maneira, procura dar maior subsídios à “Teoria da Origem das Espécies” de Darwin. Tal trabalho lhe trouxe um grande reconhecimento no meio científico mundial e lhe concedeu o direito de ser denominado por Charles Darwin de “o príncipe dos observadores da natureza do Brasil.” Ainda em Desterro, Fritz Müller teve a alegria de ver nascer duas de suas filhas: Thusnelda Müller em 25.10.1860 e Selma Müller em 08.09.1863. Em 1859 José Coutinho deixa a presidência da província catarinense e seus sucessores, sem tanto tino para a importância da educação, fazem com que o Liceu Provincial tenha a sua qualidade deteriorada. Professores são demitidos, instrumentos de laboratórios são vendidos. Tudo isto faz com que Fritz Müller ficasse desgostoso com a situação e, e, 1867, ele volta para a Colônia de Blumenau onde a alguns anos tão efusivamente fora recebido com sua família. Dessa maneira volta a poder tirar os calçados dos pés e caminhar descalço sobre a terra fértil da organizada Blumenau. Dedicou-se então, por algum tempo, a simples vida de colono. O que aconteceu a partir de então já é outra história. 
Biografia Consultiva 
SILVA, J. Ferreira da. Fritz Müller, o sábio colono. In Centenário de Blumenau: 1850 – 2 de setembro - 1950. Blumenau: Edição da Comissão de Festejos. 1950. 396-401. SILVA, J. Ferreira da. Fritz Müller e o Presidente Coutinho. In. Blumenau em cadernos. Tomo III, n° 08, junho/julho de 1858, pg. 143-146. NOMURA, Hitoshi. Grande Achado científico de Fritz Müller, in. Blumenau em Cadernos. Tomo III, n° 12, dezembro de 1960, pag. 232. FOUQUET, Carlos. O Ramo Brasileiro da Família do Dr. Fritz Müller: “sábio decifrador da natureza do Brasil. “São Paulo: Tipografia Gutemberg-Becker & Cia. 1947 .
Texto -  Luiz Francisco da Gama Rosa - Final do século XIX.
Presidente da Província de Santa Catarina
"Fritz Müller, o grande naturalista darvínico, representa, com o arqueológo Lund, da Lagoa Santa, os dois maiores cientistas habitando permanente e definitivamente  o Brasil, numa adopção de Pátria.
Conhêcemo-lo em Santa Catarina, quando professor de matemáticas, no Liceu Provincial, de que fomos juvenil aluno durante três anos, de 1862 a 1865.

Fritz Müller viera para o prestigioso, original e feérico Brasil, impelido por paixão  cientista, aportando em Santa Catarina, em 1852.

Vagando, porém, um lugar no Liceu Provincial, conquistou a cadeira de matemáticas em concurso para sempre célere.

Era, nessa época, homem de 35 a 40 anos, alto, magro, ágil, a barba inteira, curta, rala, sempre vestido singelamente, com roupa de algodão, tecidas na terra catarinense.

Uma de suas singularidades era realizar os cálculos mais complicados de modo exclusivamente mental...

Como disciplinado aluno prussiano, jamais faltava ao Liceu, à hora exata, e, cumprido rigorosamente o dever oficial, volvia rapidamente à Praia de Fora, onde habitava com a consorte e família, uma numerosa ninhada de crianças louras, por vêzes acompanhando-o ao longo da praia, quando, pés descalços e calças arregaçadas até os joelhos, colhia à beira d´água abundante e variados espécimes da fauna marinha que cuidadosamente classificava.

Freqüentemente, as excursões dirigiam-se, também, às florestas e montanhas e , aí trabalhava isolados, sem a escolta das crianças louras.

Fritz Müller singularizava-se como naturalista por intensíssima e universal intuição filosófica, como assinalado intérprete das doutrinas de Darwin, com quem ativamente se correspondia, merecendo do Jeovah do naturalismo plena aceitação e glorificantes referências.

Fatos, investigações, descobertas, realizadas por Fritz Müller, à luz dessa ingente teoria, incessantemente corroboram e ampliam a grande doutrina emancipadora da mentalidade humana.

As numerosas e pretantes obras de Fritz Müller, tôdas versando sôbre natureza brasileira, merecem ser colecionadas, traduzidas e vulgarizadas.

Fritz Müller, apesar das aparências abstratas e reservadas, era vivacíssimo espírito, sempre a par não só de progressos científicos, como de todos os sucessos ocorridos no mundo, e muito especialmente no Brasil, acompanhando-os detidamente, em prolongadas leituras de jornais da Alemanha e nas do nosso invencível decano, o "Jornal do Comércio".

Apenas aposentou-se como lente, fixou residência em Blumenau, onde por dilatados anos, cercado de universal veneração, extinguia-se, como supremo chefe espiritual daqueles nascentes povos teuto-brasileiros.
Um texto que mede a sapiência através do vestir e da aparência!
Darwin e Fritz Müller.
Em 25 de fevereiro de 2020, uma entre seus milhares de descendentes entrou em catato conosco, via correspondência eletrônica e nos escreveu:
Prezada Dna. Angelina!!!Recebi ontem de um amigo uma reportagem da sra. sobre a colonização de Blumenau, e gostei muito!!Me interessa bastante, pois o Fritz Müller foi meu tataravô!!Li também a história da Porcelana Schmidt em Pomerode, também meus parentes!!Eu moro há 28 anos na Alemanha! 
Ano passado viajei para a cidade de Erfurt, e conheci mais um pouco dos meus antepassados !! 
Casa onde viveu Fritz Müller em Erfurt/Alemanha antes de emigrar ao Brasil!! 
Parabéns e continue esse seu trabalho valioso!! 
SaudaçõesIlka 















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